Desde o dia 24 de janeiro, Porto Alegre está em alerta. Um documento enviado diariamente a bombeiros, CEEE, diversos órgãos da prefeitura e cidadãos cadastrados para receberem mensagens da Defesa Civil destaca chances de queda de granizo, trovoadas e rajadas de ventos fortes, com risco de corte de energia elétrica, queda de árvores e alagamentos. A mensagem preventiva serve para que todos estejam a postos para responder rapidamente a eventuais problemas causados por eventos climáticos adversos. Mas nem sempre foi assim.
Exatos cinco anos atrás, quando apenas a Defesa Civil era informada sobre a previsão de fenômenos climáticos com potencial de risco, nem mesmo esse alerta soou. Na noite de 29 de janeiro de 2016, um temporal que se tornaria o mais traumático da história recente da Capital derrubou árvores, destelhou casas, interditou vias e deixou centenas de milhares de porto-alegrenses às escuras, parte deles sem água, por diversos dias. Somente dos cofres públicos, os custos para reparar os estragos chegaram perto dos R$ 50 milhões.
– Aqui em Porto Alegre, foi o evento mais grave que eu participei. Foi bem complexo. Tivemos árvores e postes caídos, falta de energia. Foram mais de 15 dias trabalhando nos estragos – recorda Evaldo Rodrigues de Oliveira Júnior, diretor-geral da Defesa Civil de Porto Alegre, à época integrante do corpo de bombeiros.
Passavam das 22h daquela sexta-feira quando, após um período de calor escaldante, com bares e restaurantes lotados, o tempo virou na Capital. Rajadas de vento, chuva e trovoadas chegaram subitamente, arrancando árvores pela raiz, tombando postes de luz e arrastando contêineres de lixo. Houve queda de luz e diversas vias ficaram total ou parcialmente interditadas. Ícone da Capital, o barco Cisne Branco virou – depois do processo de retirada, que levou 58 dias, precisou ser restaurado.
O vendaval que precedeu o temporal foi o principal responsável pela devastação, que atingiu especialmente os bairros da Região Central. A virada climática rápida e intensa – a ventania durou poucos minutos – impediu que a Defesa Civil fosse alertada a tempo de se preparar para o pior.
Prefeito em exercício naquele dia, Sebastião Melo passou a madrugada no Centro Integrado de Comando e Controle (Ceic), acompanhando a situação e articulando um gabinete de crise. No sábado, a prefeitura recebeu o apoio da Brigada Militar, do Corpo de Bombeiros e do Exército para auxiliar na recuperação da cidade. Além disso, 80 presos do regime semiaberto também ajudaram a desobstruir vias. Ao todo, 1,4 mil pessoas atuaram na força-tarefa para limpar a cidade, de onde foram recolhidas mais de seis toneladas de entulhos.
Na segunda-feira seguinte, Melo decretou estado de emergência, para agilizar as contratações necessárias e tentar restabelecer a normalidade mais rapidamente. Ainda assim, a Capital penou para retomar a rotina depois do temporal. Parte disso pelo fato de não existir, à época, um protocolo claro de ação para esse tipo de evento climático.
– Um temporal como esse não é coisa que acontece todo dia. Foi um momento de muita tensão, mas, graças a Deus, não morreu ninguém. Isso despertou a cidade para a necessidade de ter uma governança alerta. Crises acontecem e a cidade precisa estar preparada – diz Melo, que, de volta ao Paço, avalia que a cidade está em melhores condições para enfrentar eventos dessa natureza.
Apesar do trauma e dos prejuízos acarretados pelo temporal 2016, a elaboração de um protocolo específico de atuação em caso de eventos climáticos adversos só ocorreu mais de três anos depois do episódio. Após assumir a Defesa Civil, o coronel Evaldo Rodrigues de Oliveira Júnior ocupou-se de articular os integrantes da Comissão Permanente de Atuação em Emergências (Copae), criada em 2015. Ele convidou novos agentes para participar do grupo e passou a promover encontros periódicos para discutir ações integradas.
O resultado foi um documento elaborado em 2019, que segue em vigor. Nele, constam diretrizes sobre como agir em caso de eventos climáticos, discriminando o papel de cada órgão (estão listadas todas as secretarias que atuam com serviços) em caso de emergência. Também estipula os critérios para ação com base na quantidade de chuva, velocidade do vento e nível do Guaíba.
Segundo a Defesa Civil, todos os alertas emitidos no último ano e meio estiveram relacionados com fatores climáticos. Diferentemente de 2016, no entanto, em nenhum deles foram necessárias mais de 24h para que os serviços fossem restabelecidos – à exceção do fornecimento de energia elétrica. A celeridade na respostas às adversidades é creditada, em parte, à adoção do protocolo, que, devido à troca de gestão, deve ser revisado neste ano.