A frase que dá título a este texto anda em desuso - pelo menos, nas redes antissociais. É curioso como ficou difícil reconhecer a própria ignorância. Aliás, parece que isso até virou motivo de orgulho. Vivemos o auge do que se pode chamar de “era da opinião total”: todo mundo tem de dar pitaco sobre tudo, mesmo que saiba pouco ou nada sobre o assunto do momento. Calar é o fim, é covardia. Fraqueza.
Não se trata apenas de opinar. A ideia é “lacrar”, bradar convicções absolutas a plenos pulmões em frases de efeito com alta carga de engajamento. Se você for ponderado ou tiver coragem de admitir que não sabe o que pensar sobre um determinado tema, cuidado: corre o risco de se tornar alvo da fúria dos que tudo sabem.
— Em cima do muro!
— Vermelho!
— Fascista!
As reações serão, claro, definitivas, terminantes, fortes, fora de qualquer dúvida. E agressivas. A hesitação enraivece. “De que lado você está, afinal?”, querem saber os incautos. Não existe mais meio termo. Ou você é ou não é, seja lá o que for.
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Na última semana, o Luciano Potter, meu colega aqui na RBS, que opina sobre tudo o tempo todo, decidiu se rebelar. Ele postou nas redes um depoimento que começa mais ou menos assim:
— Esse vídeo vai conter: nenhuma opinião. Minha opinião não é obrigatória.
Ironia fina e inteligente do Potter, comunicador hábil e conectado ao espírito do tempo, que opina por dever de ofício e já se acostumou com as “pedradas” dos haters, os odiadores das redes. Pois agora ele veio com essa:
— É uma libertação não precisar opinar. Há algo de belo em ser insignificante.
Fechar a boca - ou conter os dedos - é aceitar a possibilidade de se tornar irrelevante. Será mesmo que “o mundo precisa de um tuíte meu?”, reflete Potter, feliz por não precisar fazer uma tese sobre o que não estudou “nada, nadica”.
Dizem de que, quanto mais estudiosos somos, menos certezas temos. Acho que estamos mal na parada. Falta leitura. Mas também dizem que os ignorantes é que são felizes. Para eles, não há complexidade. As questões são sempre binárias, simples de resolver: ou é certo ou é errado. Eles julgam sem culpa.
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Lembro de um episódio marcante, em 2016, que levou a atriz Glória Pires a virar meme - uma daquelas piadas que viralizam na internet. Escalada para comentar a cerimônia do Oscar naquele ano, Glória resolveu ser “sincerona” diante das câmeras.
Em diferentes momentos, ao ser questionada sobre as chances de determinado filme ou ator levar a estatueta, ela respondeu assim:
— Não sou capaz de opinar.
Pronto. Foi o que bastou para que a artista virasse foco de críticas e motivo de chacota. Como assim, uma comentarista que se nega a emitir opinião? Impensável.
Hoje, penso que Glória foi visionária. Ah, se todo mundo tivesse a honestidade dela e pensasse antes de falar bobagem sobre algo que não sabe... Isso, sim, é coragem, bem diferente dos valentões (e das valentonas) que distribuem opiniões que ninguém pediu e agressões a rodo.
Difícil, mesmo, é não se meter nas discussões. Se você falar, será odiado por alguns, mas elogiado por aqueles que pensam da mesma forma, em um narcisismo mútuo tentador e viciante. Não é à toa que são raros os casos em que alguém admite publicamente ter mudado de opinião depois de ouvir outra pessoa. Mesmo sabendo disso, é quase impossível permanecer em silêncio e ficar alheio aos debates - talvez os monges budistas consigam.
Como disse o Potter no final do vídeo, “não sei se vou aguentar ficar quieto”.
Nem eu.