O jornalista Carlos Redel colabora com a colunista Juliana Bublitz, titular deste espaço.
A morte, infelizmente, se fez presente no dia a dia durante ao período da pandemia. E foi a partir deste doloroso episódio que o fundador do Grupo de Danças Populares Andanças, Clóvis Rocha, e a diretora artística, Cláudia Dutra, conversaram sobre a falta de trabalhos artísticos que abordem o tema.
Ambos, então, decidiram que iriam desempenhar o papel de ajudar a desmistificar o assunto e, juntos, criaram o espetáculo Uma Dança para a Morte, que tem o objetivo de ser uma jornada entre culturas de povos ao redor do mundo que transformam a morte em celebração e renovação.
A estreia ocorre nesta terça-feira (17), no Teatro Bruno Kiefer, na Casa de Cultura Mario Quintana (Rua dos Andradas, 736), com duas sessões, às 18h30min (esta com LIBRAS) e às 20h. No dia seguinte (18), será a vez da Sala Álvaro Moreyra (Avenida Érico Veríssimo, 307) receber a montagem, às 20h. Os ingressos estão disponíveis na plataforma Sympla.
— Qualquer assunto é desmistificado quando muito falado. Quando a morte virar assunto das famílias à mesa, elas poderão a encarar com mais leveza. No espetáculo, apresentamos um trechinho de uma oração tibetana que diz: "Assim como o bebê não pode ficar para sempre no útero, não podemos ficar para sempre aqui". Falar sobre morte não a atrai e pensar sobre ela é valorizar a vida e estabelecer o seu legado — explica Cláudia.
Mergulho no tema
Para a concepção do espetáculo foram quase dois anos de muita leitura e coleta de material sobre o tema. Após o Andanças ser contemplado no edital do Fundo Municipal de Apoio à Produção Artística e Cultural de Porto Alegre (Fumproarte), há nove meses, o trabalho se intensificou e, agora, chega aos palcos.
O Uma Dança para a Morte viaja por lugares como Tibet, onde os corpos retornam à natureza; Gana, com seus caixões artisticamente esculpidos; Madagascar, onde os vivos dançam com os corpos dos mortos; México, com sua tradicional festas do Dia dos Mortos; e chega, também, aos cerimoniais de canto e dança dos povos indígenas brasileiros.
O espetáculo conta com direção e coreografia de Cláudia e Clóvis, a iluminação de Karrah e a presença de 14 dançarinos do Andanças — na última cena, outros sete se juntam ao grupo no palco. A ideia é que a apresentação retorne em 2025, mas, para isso, será necessária o suporte de políticas públicas, pois, sem elas, o ingresso precisaria ser muito mais caro para sustentar a produção.