O jornalista Carlos Redel colabora com a colunista Juliana Bublitz, titular deste espaço.
Tem brasileiro fazendo cerveja e ganhando prêmios mundo afora. Trata-se de Vinícius Caetano Baumhardt, 40 anos, natural de Santa Cruz do Sul — mais viveu a maior parte da vida na Capital. Hoje em dia, ele mora na Holanda. E, por lá, atua na cervejaria Uiltje Brewing Company.
O gaúcho, atualmente, é cervejeiro e comanda o departamento de análise sensorial da empresa — o que, segundo ele, inclui fazer basicamente o trabalho que um juiz tem em um concurso, avaliando todos os lotes produzidos e as etapas do processo.
A partir disso, confere se tudo está de acordo com a referência e, também, sugere melhorias. Dentro da empresa, ainda, assumiu a parte de concursos, que necessita de uma grande bagagem técnica — e, por conta de muito estudo e dedicação, o gaúcho a tem.
Assim, encabeçou o processo para que a cervejaria holandesa faturasse prêmios como o World Beer Cup, dos Estados Unidos, a European Beer Star, da Alemanha, o Brussels Beer Challenge, da Bélgica, e a European Beer Challenge, da Inglaterra. Para completar, ainda venceu como a melhor cerveja da Holanda.
— Trabalho para que as mesmas cervejas que o consumidor compra na gôndola da loja tenham a maior chance quando vão para concursos. Mas o mérito das cervejas serem boas não é só meu, não: existe uma equipe grande que faz a mágica acontecer — explica Baumhardt.
Hoje em dia, o principal case de Baumhardt na Uiltje Brewing Company é a Bird of Prey 0.2%, que é uma cerveja de baixo teor alcoólico — considerada sem álcool na Holanda. Apesar de ser sempre muito elogiada, nunca levava prêmios. Foi aí que o gaúcho entrou na jogada:
— Analisando ela, estudando os guias de estilo de cada concurso, gerenciando os lotes e as logísticas deles, em 2023, essa mesma cerveja, sem nenhuma alteração na receita, ganhou ouro em absolutamente todos os concursos que participou, incluindo o World Beer Cup, que é, de longe, o mais concorrido e prestigiado do mundo.
De mala e cuia
Formado em Publicidade e Propaganda, o santa-cruzense, em 2008, já havia morado na Irlanda, por um ano, com a namorada — hoje, esposa — Carla Bacco, que é UX Designer. Por lá, descobriu a cerveja artesanal e ficou apaixonado pela bebida. Quando voltaram para Porto Alegre, viraram habitués do hoje extinto pub Lagom, no Bom Fim.
Foi por conta do bar e de ver amigos mergulhando no universo cervejeiro, que Baumhardt decidiu migrar de profissão. Juntando economias — e com o apoio da família —, em 2013, saiu da agência onde trabalhava e se deu seis meses para tentar dar certo no mercado da cerveja.
— Neste tempo, estudei bastante por conta, comprei meus equipamentos caseiros e, depois de alguma prática, fui ao Rio de Janeiro fazer um curso técnico na extinta Escola de Tecnologia de Alimentos e Bebidas do Senai. Voltei de lá e acabei sendo contratado justamente pelo Lagom, meu bar preferido — recorda o gaúcho.
Foi no pub em que aprendeu a produzir diversos tipos e estilos de cerveja, desenvolvendo a análise sensorial. Em seguida, conseguiu fazer um curso de Beer Sommelier do Instituto da Cerveja Brasil e, logo depois, fez provas para se certificar como juiz cervejeiro pelo Beer Judge Certification Program (BJCP).
Trabalhou, ainda no Estado, em outras duas empresas, até fundar, ao lado de Carla, a Baumhardt Bier, que era uma cervejaria "cigana" — que produz em fábricas terceiras. O empreendimento acabou sendo durante a pandemia.
— Em 2019, fui convidado a fazer um estágio na cervejaria piloto de uma maltaria na Alemanha, a Weyermann, de Bamberg. E esse foi o gatilho para minha esposa e eu voltarmos a pensar em morar fora novamente — relata Baumhardt.
A dupla se mudou para Haarlem, cidade vizinha de Amsterdam, na Holanda, em 2022. E vive feliz por lá.