Nomofobia. Do inglês, “nomophobia”, acrônimo de “no mobile phone phobia”. Sim. Já existe uma palavra para isso: o medo de ficar sem o telefone celular. O termo surgiu no Reino Unido, em 2008, quando a coisa toda estava só começando. De lá para cá, o smartphone virou um vício.
Sei, você está aí pensando: “Pfff… que bobagem”. Vou provar que não é exagero.
Corta para a cena 1:
Você caminha em uma rua movimentada, de um centro urbano qualquer. Em algum momento, vai topar com ele: o zumbi do celular. Ele caminha com a cabeça baixa, olhos fixos na tela, polegar movendo-se nervosamente de baixo para cima no dispositivo. Ele não te vê. Ele não vê ninguém. Caminha alheio ao mundo ao redor. Pode até cair em um buraco ou morrer atropelado na próxima esquina. Mas não, ele não larga o telefone.
Cena 2:
Restaurante bacana, luz baixa, MPB tocando baixinho. Casais animados, conversando, rindo, comendo batatas rústicas, bebericando seus chopes cremosos, como diria meu amigo David. Ah, os chop… Epa, como assim? Algo não se encaixa.
Nas mesas ao redor, você vê pessoas sentadas juntas, mas separadas por telas - o que o mestre Nilson Souza descreve como “encontro de solidões”. Cada um no seu quadrado, ou melhor, no seu iPhone. “Tem tomada?”, pergunta a moça ao garçom. A luz azulada reflete nos rostos de olhos vidrados no visor. O cúmulo dos cúmulos: eles conversam entre si pelo WhatsApp. Se cair o WiFi, já era. Acabou o encontro.
Ok, ok, você vai me dizer que nunca teve um desses aparelhos e que jamais, never, nunquinha, cogitou baixar o tal aplicativo de mensagens, quanto mais abrir uma conta no TikTok. É, pode ser. Mas, sejamos francos, você não está livre desse novo mundo, porque os zumbis do celular, ah, eles por toda parte, no supermercado, na farmácia, na padaria da esquina. Na sua família.
Não é à toa que o psicólogo espanhol Marc Masip insiste em afirmar que “o celular é a heroína do século 21”. Curtidas, likes e joinhas tornaram-se injeções cavalares de dopamina, o neurotransmissor do prazer. Viciar é fácil. Basta uma boa conexão à internet.
Custamos a entender, se é que de fato entendemos, que os algoritmos se encarregam de tudo, inclusive, de nos meter em bolhas de desinformação, teorias da conspiração e mecanismos que nos tornam dependentes das redes sociais. O sistema é feito para isso e até já contribuiu para a ascensão de “mitos” - Donald Trump e Jair Bolsonaro que o digam.
Não, não, não vou entrar em polêmica. Quero falar do desafio lançado por Douglas Rushkoff. Teórico da mídia, escritor e professor em Nova York, Rushkoff é conhecido pelas críticas às big techs, aos rapazes do Vale do Silício e ao mundo distópico que criaram. Rushkoff, que virá a Porto Alegre em setembro, para o Fronteiras do Pensamento, sugere que fiquemos um dia por semana longe das telas. Um dia. Para voltar a olhar as pessoas nos olhos, para viver uma vida real outra vez. Para retomarmos a sanidade perdida.
Você consegue?