A jornalista Raíssa de Avila colabora com a colunista Juliana Bublitz, titular deste espaço
Em um conjunto de prédios do início do século passado, na rua Riachuelo, no centro de Porto Alegre, um tesouro se esconde. O Arquivo Público do Estado (Apers), localizado no número 1031, guarda caixas e mais caixas de documentos históricos do Rio Grande do Sul. Se engana quem acha que o lugar é apenas um depósito de papéis com pouca serventia em uma época em que tudo é digital. O Arquivo Público é memória preservada que ajuda a contar, com embasamento, como, quando, onde e por que certos eventos aconteceram. Assim, pesquisadores acadêmicos, estudantes, genealogistas ou qualquer cidadão com um pinguinho de curiosidade podem consultar o material ali guardado com zelo.
Para aproximar a comunidade dos arquivos históricos, o Apers, em parceria com a UFRGS, desenvolveu um programa de educação patrimonial que, desde 2008, promove oficinas para professores e disponibiliza jogos interativos para alunos da rede pública – tudo de maneira lúdica e muito bem fundamentada. O jogo África no Arquivo, por exemplo, reconstrói a trajetória de escravizados que eram vendidos, comprados e alforriados no RS, com os documentos oficias que fazem parte do acervo do Estado. Foram produzidas 700 caixas de madeira com tabuleiro e material didático, distribuídas em escolas de Porto Alegre e Região Metropolitana. Dessas, ainda restam 50 disponíveis para instituições que se interessarem em disponibilizar o material para seus alunos.
– É uma maneira de levar o Arquivo para dentro dos colégios e de nos responsabilizarmos pelo cumprimento da Lei 10.639, que torna obrigatório o estudo da história da África e dos africanos no currículo escolar – conta Clarissa Sommer Alves, historiadora que participou da concepção do material.
Outro jogo, o Caso X, feito de maneira artesanal pelos servidores do órgão. Se inspira no clássico Detetive e tenta ensinar para os pequenos como a ditadura militar impunha restrições e perseguia civis, com base em processos de indenização de presos políticos no Estado, além de colocar no mapa pontos da Capital como o Dopinho, a Escola Estadual Paulo da Gama, a Penitenciária Feminina Madre Pelletier e o Presídio Central, que eram utilizados pela repressão. Este tabuleiro está disponível para aluguel. As escolas podem entrar em contato com o Arquivo, que empresta o material por um determinado tempo aos professores.
– É importante também para as crianças entenderem como se escreve a História. Estamos sempre consultando documentos e buscando fontes. Os arquivos são uma fortaleza de memória – defende o historiador Gabriel Gaziero, que retomou a distribuição dos tabuleiros no período pós-pandemia.
Também é possível acessar e fazer download de todo o material via internet pelo site. A iniciativa é um esforço para que mais escolas possam utilizar os jogos durante o calendário anual de ensino. Instituições interessadas em retirar as caixas que ainda estão disponíveis podem entrar em contato pelo e-mail acaoeducativa@planejamento.rs.gov.br.