A placa que denuncia crimes da ditadura militar foi recolocada, nesta quinta-feira (29), em frente a um casarão onde funcionou o antigo Dopinho (em alusão ao Departamento de Ordem Política e Social, o Dops), na Rua Santo Antônio, bairro Independência, em Porto Alegre.
Fixada na calçada em agosto de 2015, dentro do projeto Marcas da Memória, a antiga placa não foi mais vista no local — o Movimento de Justiça e Direitos Humanos foi informado em julho que o ponto de fixação da peça na calçada havia sido totalmente coberto por concreto (MJDH). Conforme a prefeitura da Capital, uma nova placa foi feita após acordo do Ministério Público com a moradora do imóvel em 2020.
A placa é parte do projeto Marcas da Memória, uma parceria entre o Executivo municipal e o MJDH. O antigo Dopinho foi considerado o primeiro centro clandestino de repressão, instaurado pela ditadura logo após abril de 1964. O espaço abrigava atividades da repressão militar como prisões políticas, desaparecimentos e tortura. No total, nove placas estão espalhadas em Porto Alegre para indicar lugares em que ocorreram crimes do regime militar.
Uma placa semelhante estava no mesmo local desde agosto de 2015. No final do ano passado, o presidente do MJDH, Jair Krischke, disse que não era possível saber se a placa havia sido removida ou estava embaixo do concreto.
No final de 2020, a promotora Ana Maria Moreira Marchesan, da Promotoria de Defesa do Meio Ambiente, informou que apurou os fatos em inquérito sigiloso e que "a placa anterior estava avariada e foi retirada porque um idoso quase se machucou em razão disso". Na ocasião, a promotora não entrou em mais detalhes.
Conforme Ana Maria, um acordo voluntário foi assinado com a moradora do imóvel. Ante o Ministério Público, ela assumiu o compromisso de repor a placa, mantendo as mesmas características e dizeres. Os custos, segundo o acordo, seriam de responsabilidade da moradora — a prefeitura não soube confirmar, nesta noite, que pagou pelo novo objeto.
Durante a recolocação da placa, Krischke, que também é criador do projeto Marcas da Memória, relembrou o fechamento do local.
— O Dopinho foi fechado em setembro de 1966, após a descoberta do assassinato do sargento Manoel Raimundo Soares, que ficou conhecido como "caso das mãos amarradas" — afirma, citando o caso do sargento do Exército Manoel Raymundo Soares, encontrado morto à margem do Rio Jacuí com sinais de tortura e mãos amarradas às costas.
O secretário Municipal de Desenvolvimento Social da Capital, Léo Voigt, ressaltou a importância da placa no local:
— É muito importante superarmos os traumas do passado sem apagarmos a memória, permitindo que as novas gerações tenham acesso a essas informações.
Na ação, também esteve presente o vereador Pedro Ruas (PSOL), que representou a Câmara de Vereadores.
O que diz placa retirada da calçada em frente ao Dopinho
"Primeiro centro clandestino de detenção do Cone Sul. No número 600 da Rua Santo Antônio, funcionou estrutura paramilitar para sequestro, interrogatório, tortura e extermínio de pessoas ordenados pelo regime militar de 1964. O major Luiz Carlos Menna Barreto comandou o terror praticado por 28 militares, policiais, agentes do DOPS e civis, até que apareceu no Guaíba, o corpo com as mãos amarradas de Manoel Raymundo Soares, que suportou 152 dias de tortura, inclusive no casarão. Em 1966, com paredes manchadas de sangue, o Dopinho foi desativado e os crimes ali cometidos ficaram impunes."