Em 16 de dezembro de 2020, o chamamé, gênero/ritmo desenvolvido na província argentina de Corrientes (e também fluente no RS), foi declarado Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela Unesco. Tal reconhecimento deu um clique nas cabeças de alguns uruguaianenses, entre eles o compositor e jornalista Francisco “Chico” Alves: por que não pretender o mesmo para a Califórnia da Canção Nativa, que em 2021 completa 50 anos? Afinal, esse festival pioneiro promoveu uma revolução na música regional gaúcha e revelou dezenas de grandes músicos.
— Eu vinha acompanhando a batalha da comunidade artística de Corrientes para o reconhecimento do chamamé e eles conseguiram não apenas isso, como também financiamento para vários projetos culturais — diz Chico. — A Califórnia motivou o surgimento de mais de cem festivais por todo o Rio Grande, renovou nossas música e poesia, propiciou o surgimento de um mercado de trabalho que não havia antes. E desde o início, a cada edição, tem de andar mendigando esmolas para ser realizada, para fazer cultura neste Estado.
Do alto de sua condição de participante da Califórnia desde a primeira edição, autor de clássicos como Sabe Moço e Não Podemo se Entregá pros Home, Chico começou a matutar. O passo inicial foi cruzar o Rio Uruguai e conversar com a secretária da Cultura de Corrientes, Gabriela Basualdo, para saber o que fizeram para conseguir o reconhecimento. Depois, publicou um texto sobre por que a Califórnia poderia ser considerada Patrimônio Cultural. A jornalista Vavá d’Arriaga, também uruguaianense, enviou o texto para sua amiga Marlova Jovchelovitch Noleto.
Nascida em Uruguaiana, Marlova se tornou em 2018 a primeira mulher a ocupar o cargo de direção da Unesco no Brasil — trabalha na entidade desde 1999. E, assim, Chico foi colocado em contato com essa pessoa. Ouviu dela que o reconhecimento da Califórnia era possível, sim, e mostrou os caminhos — institucionais e políticos — que devem ser seguidos para o processo andar nas instâncias internacionais. Antes que me esqueça, a sigla em inglês Unesco resume, em português, Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, com sede em Paris.
— Tenho conversado com muita gente aqui na cidade, e também de outros lugares, inclusive políticos, para impulsionar a ideia — resume. — Com toda a história da Califórnia da Canção, que aliás já é considerada patrimônio cultural do RS, podemos chegar ao reconhecimento da Unesco. E não se trata só da Califórnia, mas do movimento nativista como um todo. Como eu digo, o reconhecimento não significa apenas aplausos, mas dinheiro também, para projetos culturais bem formulados. Não é sonhar muito alto, é possível. Mas precisamos de apoio...