Árvores cortadas de mais ou de menos no parque Harmonia? A polêmica da vez em Porto Alegre questiona que parques queremos para a nossa cidade. E os lados estão em posições bem distintas.
Por parte dos ambientalistas, o corte das árvores e a retirada da vegetação rasteira descaracterizam o parque, afugentam aves e urbanizam mais um espaço verde na cidade. Em posição contrária está a prefeitura e a Gam3 Parks - consórcio responsável pelo Parque da Harmonia -, que defendem que vem fazendo tudo dentro da lei.
Mesmo cumprindo a legislação, a prefeitura precisa reconhecer que o parque terá menos sombra quando a revitalização for concluída. Por que é possível afirmar isso? A cada árvore cortada, cinco novas serão replantadas, é verdade. Mas são mudas, pequenas, que precisarão de alguns anos, e condições adequadas, para melhor se desenvolverem.
É verdade que o parque é fruto de um aterro feito no passado. Mas em época de aquecimento global, que tanto tem se falado sobre preservar nossas florestas e o meio-ambiente, diminuir os espaços verdes das cidades é o mais adequado? Traz que impacto?
Uma forma de amenizar este problema seria buscar o replantio de espécies de maior porte neste período de pouca sombra. Lembro de um caso ocorrido em Viamão. Uma figueira centenária foi retirada da RS-040, em 2018, e transplantada para dentro do Parque Saint' Hilaire. A árvore precisou ser retirada da beira da rodovia para poder dar acesso à faixa azul dos ônibus e acabou trazendo ainda mais sombra ao ambiente da mesma região.
Então, por que não transplantar espécies de maior porte para o Harmonia até que as mudas se desenvolvam? Por certo este é um procedimento mais caro do que trazer vegetais dos viveiros da municipais, que vão demorar para fazerem sombra. Mas não seria um bom sinal de que o consórcio e a prefeitura estão preocupados com o bem-estar dos frequentadores do parque?
Creio que o debate mais difícil de se chegar a um consenso não é se a legislação está sendo cumprida. Não acredito que a prefeitura faria algo fora das normas ambientais.
O que identifico como ponto mais divergente é se a população aceita que o parque Harmonia tenha menos árvores, para dar espaço a ambientes mais turísticos. Porém, essa discussão começa um pouco tarde, depois que houve a escolha de uma empresa, assinatura de um contrato, a construção de uma proposta, após a concessão ter sido discutida à época das audiências e estudos públicos.
Algumas dúvidas que a discussão sobre as obras do parque Harmonia trouxeram:
- Se aproximadamente 130 árvores poderiam ser retiradas, por que a prefeitura autorizou uma remoção muito maior?
- Se o corte de 103 árvores já trouxe tanto impacto, como ficaria o parque sem outras 329 espécies?
- Em vez de cortá-las, as espécies sadias não poderiam ter sido transplantadas?
- Houve levantamento sobre o impacto da fauna? Que proteção foi feita para proteger as aves que estão em época de reprodução?
- Por que um integrante do consórcio se rebelou contra as próprias empresas envolvidas na revitalização?