O imbróglio jurídico envolvendo a Arena do Grêmio, e as obras do entorno do complexo, não será resolvido em poucos capítulos. Diga-se de passagem, este é um processo que já se arrasta há uma década.
Se tudo seguir no atual caminho, é impossível precisar prazos. As decisões são passíveis de novos questionamentos.
Para o advogado Thomas Dulac Müller, do escritório Cesar Peres Dulac Müller Advogados, que atua em reestruturações de empresas, como no plano de recuperação judicial da Paquetá e da Ulbra, uma solução envolveria que todas as partes pudessem ceder um pouco. Nesta mesa de negociação precisa estar o Grêmio - dono do estádio Olímpico -; a Arena Porto-Alegrense - gestora do estádio -; as empresas Karagounis e OAS 26 - proprietárias da Arena -; Banrisul, Banco do Brasil e Santander - credores de R$ 226,39 milhões do financiamento devido pela Arena Porto-Alegrense.
O que fazer
O Grêmio repassaria o Olímpico para os três bancos e receberia a Arena, sem dívidas. A Karagounis e Oas 26 aceitariam ceder o Olímpico e receber uma parte por essa negociação. A Arena Porto-Alegrense anteciparia o fim do seu contrato de gestão em troca da liberação do pagamento dos valores devidos às instituições financeiras. Caberia aos bancos venderem o terreno do Olímpico para os futuros interessados.
Cada um precisaria ceder
Os bancos precisariam aceitar a diminuição da dívida e os valores que seriam recebidos pelo Olímpico. O Tricolor precisaria aceitar entregar o Olímpico mais cedo do que imaginava. As empresas Karagounis e OAS 26 precisariam desistir do projeto de construção da área do Olímpico. Segundo Müller, essa negociação poderia ter uma supervisão externa, dentro de uma recuperação judicial. Essa medida também traria uma segurança maior para os futuros compradores do Olímpico.
- Quando se entra numa recuperação judicial, é possível trazer todos os envolvidos para um juízo universal. Credores e demais possíveis credores participariam. Esse processo deveria ocorrer aqui no Rio Grande do Sul, onde há mais ciência do caso, o que incidiria o melhor julgamento - avaliou o advogado.
Leilão é bom?
Desde que a Justiça de São Paulo determinou a penhora da Arena e dos direitos de uso do estádio, a opinião pública se divide entre aqueles que entendem que essa medida é boa para o Grêmio e aqueles que acham que é ruim.
- Resolve a vida do Grêmio. Acaba esta agonia. Quanto mais a Metha explora a Arena pior para o clube. Espero que executem logo para que um acordo seja feito - avaliou um conselheiro do clube, que não quis ter seu nome revelado.
Já o advogado Thomas Dulac Müller vê um lado bom e outro lado ruim; tanto para o Grêmio quanto para futuros interessados.
- O leilão ao preço cogitado (R$ 700 milhões) não é bom para o Grêmio. Dificilmente o Grêmio terá condições de participar se os valores forem estes. Agora, se o valor da Arena baixar, passa a ser interessante para o Grêmio, mas para outros interessados também - projetou Müller.
Opiniões de ex-presidentes
O ex-presidente do Grêmio, Romildo Bolzan Jr, tentou resolver o impasse durante sua gestão - entre 2015 e 2022. Houve avanços e recuos durante este período.
- Não tenho acompanhado as providências ou ações desde que saí - declarou Romildo.
A coluna também procurou o ex-presidente Paulo Odone, responsável pelo clube entre janeiro de 2011 e janeiro de 2013. As negociações para a construção da Arena foram capitaneadas por ele. A inauguração da nova casa foi um dos últimos atos da sua gestão. Até a publicação desta coluna, Odone não respondeu aos questionamentos feitos.