Nada é maior que o Grêmio. Nenhum jogador, dirigente ou estádio tem envergadura superior às nossas conquistas ou à paixão da torcida. É essa devoção pelo manto tricolor que construiu uma trajetória centenária e nos projeta para o futuro.
Contudo, por dever à verdade e em respeito aos milhões de gremistas, cumpre me manifestar após a entrevista do patrono Hélio Dourado na Zero Hora de domingo, na qual afirma que "não precisava esta tal de Arena". Na infeliz declaração, não se pode acusar Dourado de incoerência. Na aprovação da construção da Arena, ele foi o único entre mais de 300 conselheiros que votou contra a mudança de casa.
Em 111 anos de história, poucas decisões foram tão discutidas e com tamanha transparência dentro do Grêmio. Foi preciso coragem, estudo e sobretudo visão de futuro para que a Arena tivesse adesão tão gigantesca dentro do clube. Dourado, um dirigente que sempre teve a gratidão de todos os gremistas, exerceu seu direito de voz e voto, mas foi solitariamente vencido.
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Pudera. Não foi um projeto meu, da minha diretoria, da gestão Duda Kroeff ou de três ou quatro gremistas. Foi um negócio que passou pelo Conselho, mas antes pelo crivo de consultorias especializadas e de praticamente todos os grandes empresários gremistas. Eis a base do que foi feito, se ainda há quem não saiba: 65% dos lucros para o Grêmio, 35% para a construtora, ante 100% de eventuais prejuízos para a OAS.
Ainda assim, sempre defendi o dever de o Grêmio melhorar o contrato. E ajudei para isso, colocando-me à disposição do presidente Fábio Koff. Só me manifestei quando a instituição atirou pedras no próprio patrimônio, como Dourado faz agora.
Reitero: a atitude é compreensível, dada a ligação emocional de Dourado com o Olímpico. No entanto, quem viveu os últimos tempos do Olímpico presenciou arquibancadas sacolejantes escoradas por caibros de eucalipto, pedaços de concreto desabando sobre as cadeiras, viu o estouro de uma caixa d'água colocando a vida de funcionários em risco e sismógrafos registrando a insegurança da estrutura. A verdade é que nosso glorioso casarão já não se adequava às demandas do torcedor e do futebol moderno. Pior, era o prenúncio de uma tragédia futura.
Entendo as declarações do presidente Dourado como um sintoma dos novos tempos gremistas. Vejo o Grêmio fustigado por uma disputa fratricida que paralisa o clube e nos desvia do caminho primordial: a busca por vitórias no campo, faixas no peito e taças na estante. Não sou candidato a cargo algum no Grêmio, mas sou parceiro para ajudar a retomarmos a tranquilidade institucional.
Por isso o alerta: é hora de o Grêmio e os gremistas assumirem a nova casa com orgulho e temperança. É hora de pensarmos no futuro e fazermos da Arena não apenas um campo de jogo, mas também uma janela de oportunidades para a redenção financeira do Grêmio. Mais do que tudo, a Arena precisa ser o palco de novas jornadas épicas de títulos e vitórias.