Depois de anos de espera, a Zona Sul do Estado vive a expectativa sobre uma obra aguardada há décadas. A construção em questão é a travessia a seco pela Lagoa dos Patos, entre a BR-101 e a BR-392, ligando os municípios de São José do Norte e Rio Grande.
Desde 2015, a empresa Ecoplan realiza o Estudo de Viabilidade Técnica, Econômica e Ambiental (Evtea) da construção. A conclusão dos trabalhos está prevista para ocorrer em março de 2023. Em 2020, um termo aditivo prorrogou o contrato.
O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) informa que, em julho, o levantamento completou 55% de conclusão. A autarquia também confirmou que a construção de um túnel para ligar as duas cidades foi descartada pelo estudo, por causa das dificuldades de implementação.
"O Estudo teve sua fase preliminar concluída, onde foram realizados os levantamentos de campo e, nesse momento, o Estudo de Tráfego está em análise para que seja possível finalizar a definição das alternativas e, posteriormente, avaliada a viabilidade do empreendimento", informa nota do departamento.
De acordo com o presidente do Sindicado dos Lojistas do Comércio de Rio Grande, Luiz Antônio Alves Escobar, o túnel foi descartado por causa dos valores e da localização. Seria necessário haver um calado mais profundo para poder executar esse tipo de construção. Escobar informa que, atualmente, o frete em Rio Grande é 40% mais caro por causa dessa dificuldade.
— Duas balsas fazem essa travessia hoje. Tem dias que chegam a se formar até 15 quilômetros de filas de caminhões para atravessar. Isso vem prejudicando a cidade. Precisamos melhorar essa parte do trânsito na nossa região. Estamos no século 21. Não tem mais porque ficarmos sem a ligação a seco nessa região — destaca Escobar.
Comércio impactado
O comércio das duas cidades esperam por essa obra. Há 35 anos, Jaime de Carli é proprietário do armazém Bom Preço, em São José do Norte. Ele relata as dificuldades que encontra para conseguir receber mercadorias. Recentemente, um transportador disse a um fornecedor seu que os produtos não estavam sendo levados para o armazém porque os estoques estavam cheios, quando, na verdade, o relato havia sido apenas uma desculpa para não se deslocar até a cidade.
Ponte é alternativa
Com o túnel descartado, a obra que deverá ser executada é a construção de uma ponte. Existem duas alternativas. Uma delas, sairia do centro de Rio Grande e iria até a entrada da BR-101, em um caminho aproximado de quatro quilômetros de extensão. A outra envolve a construção de uma estrutura até a ilha do Terrapleno - de propriedade da Marinha - e outra da ilha até São José do Norte, em dois trechos de pouco mais de quilômetro cada. Em termos de comparação, toda a estrutura da nova ponte do Guaíba tem 2,9 quilômetros.
Como forma de deixar a construção menos onerosa, é avaliada a possibilidade da ponte ser levadiça. Isso permite que os pilares não sejam tão elevados, diminuindo a altura da estrutura. Porém, diferente da primeira ponte do Guaíba, ela não teria a elevação do vão principal de forma parelha. Ela abriria uma parte de cada lado.
— A ligação a seco facilitaria muito a logística de transporte e permitirá que novos investimentos se instalassem na cidade. São José do Norte tem tem potencial enorme para instalação de terminais portuários de uso privado. Temos condição geográfica favorável — destaca a prefeita de São José do Norte, Fabiany Zogbi Roig Fá.
Além da construção da ponte, é aguardado investimento na BR-101, que, na região de São José do Norte, tem muitos trechos sem acostamento. A obra aliviaria também os investimentos que a prefeitura faz na pavimentação das ruas.
— Nosso Centro Histórico é tombado. E passam caminhões tritrens, com até 90 toneladas. A prefeitura tem uma despesa enorme para manutenção das vias pavimentadas, pois as ruas tem base arenosa, a ponto, inclusive, de prejudicar o sistema de esgoto da cidade — ressalta a prefeita.
Vista como fundamental para o desenvolvimento da região, principalmente do Porto de Rio Grande e da cidade vizinha - São José do Norte -, a nova alternativa diminuirá em 110 quilômetros a distância entre o Rio Grande e Santa Catarina.
— Quando a gente olha toda a atividade portuária, nas áreas do porto de Rio Grande, temos diversos terminais, tem algumas áreas disponíveis sendo arrendadas, mas tem o lado de São José do Norte, com grande potencial. Quando a gente olha também a relação desses projetos de energia eólica, que estão sendo tratados, existe uma procura muito grande pelo nosso porto aqui em Rio Grande. Essa ligação também favorece o desenvolvimento desses projetos, por facilidade na ligação entre cidades, quando hoje dependemos da balsa para fazer essa travessia. Isso, de fato, pode potencializar os projetos do porto e do distrito industrial na relação de se criar rotas alternativas e dos potenciais necessários — informa o Presidente da Portos RS, Cristiano Klinger.
Mas a caminhada ainda é longa. No fim de agosto, a prefeita de São José do Norte ouviu do Dnit que a realização do estudo poderá ser estendida até junho do ano que vem. Fabiany também foi informada que ainda não há recursos previstos no orçamento para a realização do projeto executivo, fase preliminar da construção.
— Em Rio Grande isso é um sonho. Após uma travessia a seco (a região) iria se desenvolver. Tem muita capacidade turística. E tem muito a se desenvolver em alocações de indústrias, que poderiam trabalhar na margem de São José do Norte, utilizando o porto de Rio Grande. Os molhes já estão prontos. A sinalização já existe. Os dois lados são dragados. Só que no canal de São José do Norte ninguém faz terminal porque não tem travessia a seco — avalia o vice-presidente da Câmara de Comércio de Rio Grande, Antônio Carlos Bacchieri Duarte.