Que a situação está insustentável do transporte público de Porto Alegre todos sabem. Usuários, funcionários, empresas, prefeitura e mesmo o cidadão que não costuma andar de ônibus. A mudança precisa ocorrer para não vermos esse sistema de transporte ser inviabilizado pelo alto custo.
As propostas são polêmicas. Não será fácil convencer os vereadores a aprovar, em ano de eleição, a criação de pedágio para trafegar no centro de Porto Alegre, nem onerar as empresas com a taxa de mobilidade urbana para todos os funcionários em vez de vale-transporte para os que precisam. Há ainda a intenção de taxar o uso de sistema viário pelas empresas de aplicativos.
E há outras propostas que são tão óbvias que já deveriam estar em funcionamento, mas estão ainda em discussão, como o fim da taxa de gestão da chamada Câmara de Compensação Tarifária, uso de outras fontes como verbas publicitárias e compra de passe antecipado para custeio da tarifa, e possibilidade de circulação de veículos menores, como micro-ônibus, em horários e dias com menor demanda de passageiros.
Outra proposta é a que envolve o cobrador. Em dias de passe-livre, por exemplo, eles seguem acompanhando as viagens, por mais incrível que isso possa parecer.
O problema da apresentação das propostas é o momento. Com o passar dos anos na sua gestão, o prefeito Nelson Marchezan foi vendo sua base ser diluída na Câmara de Vereadores.
Em fevereiro de 2020, os parlamentares rejeitaram o projeto que reduziria a presença dos cobradores em dias e horas específicos. A prefeitura foi derrotada pois não soube negociar com a Câmara.
O que esperar, então, deste novo pacote na situação atual que o prefeito passa por um processo de impeachment? Ao tomar a decisão de cortar cargos em comissão dos partidos dos vereadores que não o apoiaram, Marchezan decidiu bater de frente com parlamentares que o afrontaram. É, sem dúvida, a melhor série de medidas no pior momento possível.
Não dá pra dizer que o prefeito se eximiu das responsabilidades. Ele buscou o protagonismo. Em 2018, acabou com a cobrança de 50% da tarifa na segunda viagem. No ano passado, excluiu a isenção da passagem para idosos entre 60 e 65 anos.
A prefeitura ainda proporcionou que ônibus pudessem ter desconto na tarifa em horários alternativos. A medida atendeu pedido das próprias empresas, que acabaram recuando na hora de colocar em prática.
Não acho que o processo de impeachment veio fora de hora. A culpa dos vereadores estarem analisando agora, em meio a uma pandemia, o afastamento do prefeito, foi porque Marchezan não soube conversar com os parlamentares.
Ruim para os usuários do transporte coletivo, ruim para a cidade. Vamos pagar caro por isso. E não me refiro ao salgado preço da tarifa de ônibus.