Questões relacionadas à política fiscal, ao aumento dos juros e à oscilação do câmbio estão entre os desafios que devem determinar o desempenho da economia brasileira em 2025. Em ritmo de crescimento há pelo menos 13 trimestres seguidos, a tendência, segundo os analistas, é de que a combinação fiscal e monetária reduza o ritmo do ciclo positivo ao longo do próximo ano, desaquecendo a atividade de forma geral.
— O grande dilema para 2025 é fazer o gasto caber no orçamento — diz Marcelo Portugal, economista e professor na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
A seguir, veja perspectivas econômicas para o próximo ano em cinco áreas: crescimento econômico, juro, inflação, câmbio e emprego. Confira também as projeções para o RS em 2025.
Crescimento econômico
A economia brasileira tende a seguir em trajetória de crescimento, ainda que não no mesmo patamar de 2024. O desaquecimento nos próximos trimestres deve estar atrelado ao aumento na taxa de juros, hoje em 12,25% ao ano (leia mais abaixo).
O economista e professor da UFRGS Maurício Weiss lembra que a elevação freia a atividade de diversas formas, como na redução da tomada de crédito e nos investimentos, pelos financiamentos que ficam mais caros.
— Isso desacelera tanto a área da construção civil quanto a aquisição de equipamentos — cita Weiss.
Na avaliação de Marcelo Portugal, a limitação de gastos, reduzindo os investimentos públicos, também deve influenciar a desaceleração econômica ao longo do ano.
— Minha expectativa é de que começaremos bem, sobretudo porque, aparentemente, teremos uma boa safra. Mas terminaremos mal, porque temos um descontrole fiscal. Parte do crescimento acelerado é estrutural porque foram feitas várias reformas que estão florescendo agora. Mas outra parte é fiscal, é o governo aumentando o déficit público. E o problema é que este aumento é insustentável — diz o professor.
Juro
Com pelo menos dois aumentos já indicados pelo Banco Central (BC) até o final de março, elevando a Selic a 14,25% ao ano, a projeção dos analistas é de que a taxa básica de juros do Brasil possa alcançar 15% ainda na metade de 2025.
O patamar elevado, acionado pela equipe econômica para frear a inflação e a política fiscal, implica em uma série de outros fatores, como no nível de investimentos. O empresário tende a ter menos interesse de aplicar capital produtivo quando a taxa está alta, o que também pode ser fator de desaceleração, lembra Maurício Weiss.
— Mesmo que reduza o ritmo de ajustes pelo BC, terá um efeito de frear a economia, reduzindo a marcha, sobretudo no segundo semestre — acrescenta Portugal.
Inflação
De acordo com a projeção dos economistas, a inflação em 2025 deve sentir os efeitos do câmbio, com o dólar valorizado a níveis recordes frente ao real no encerramento de 2024, mas também sendo arrefecida por efeito dos juros, represando a demanda de consumo. Weiss lembra que a variação de preços depende ainda de outros fatores, como a valorização de produtos primários no mercado internacional e da questão climática — componente que em 2024 foi determinante no Rio Grande do Sul e no Centro-Oeste.
Na avaliação de Portugal, a inflação deve se manter acima do centro da meta em 2025, na casa dos 5%. No último Boletim Focus, a projeção indicou inflação de 4,91% no próximo ano.
Câmbio
Depois de bater em 2024 a maior cotação desde o Plano Real, atingindo o pico de R$ 6,26 em 18 de dezembro, a escala do dólar voltou a ser preocupação no cenário nacional. Os especialistas, no entanto, são cautelosos quanto às projeções para o próximo ano.
O economista Maurício Weiss lembra que o comportamento da moeda está mais relacionado aos movimentos do mercado financeiro do que às questões reais da economia, o que acrescenta incertezas quanto ao comportamento especulativo.
No fim de novembro, quando a moeda norte-americana bateu os R$ 6 pela primeira vez na história, a alta refletia os anúncios do governo federal para equilibrar as contas. Desde então, a marca segue sendo batida, reflexo da turbulência fiscal.
Apesar da dificuldade de se prever cotações, Marcelo Portugal acredita que a barreira dos R$ 6 pode ter se tornado “um novo piso” para o câmbio.
Emprego
As estimativas econômicas indicam que o mercado de trabalho deve permanecer aquecido em 2025. Segundo os especialistas ouvidos pela reportagem, a taxa de desemprego deve seguir em patamares baixos em termos de níveis históricos.
A ressalva, no entanto, é em relação ao ritmo de novas contratações.
— Quando a taxa de desemprego vai ficando cada vez em patamar menor, fica mais difícil de reduzir. Acredito que vamos ter um mercado de trabalho ainda aquecido em 2025, com a quantidade de quedas na mesma forma que em 2024 — projeta Weiss.
E o Rio Grande do Sul?
Mesmo com a enchente e os efeitos em cadeia depois dela, sobretudo na área da mancha onde ocorreram as inundações, a economia do Rio Grande tem mostrado rápida recuperação. Para 2025, as expectativas de uma safra de verão mais próxima da normalidade aquecem as projeções para um ano de atividade econômica positiva.
O componente adicional de incertezas para este desempenho fica por conta das condições climáticas.
Confirmando-se uma boa safra, o câmbio desvalorizado pode beneficiar as atividades relacionadas à comercialização de grãos via exportação.
Economista-chefe da Federação da Agricultura do RS (Farsul), Antônio da Luz pondera, no entanto, o reflexo do dólar no agro — seja pelo impacto nos custos de produção, seja pela diferença de plantar com um preço e colher com outro:
— O efeito hoje em dia, para o agro, é neutro, se comparado ao ganho que se tinha anos atrás. Mas pior que o câmbio desvalorizado, é a oscilação.