Terminou em confusão a reunião do Conselho Municipal de Transportes Urbanos (Comtu) que, nesta sexta-feira, definiu o novo preço da passagem de ônibus em Porto Alegre. Foram aprovados o valor de R$ 4,30 e a volta da cobrança de 50% da segunda passagem — hoje, a tarifa é de R$ 4,05 e a segunda passagem é gratuita (em um intervalo de 30 minutos entre viagens). O aumento de 6,17% já foi sancionado pelo prefeito Nelson Marchezan e começa a valer na terça-feira (13).
Ao final das duas horas de reunião, uma briga entre conselheiros exigiu que a Brigada Militar fosse chamada. O atrito foi entre o representante do Sindicato dos Rodoviários, Emerson Dutra, conhecido como Balinha, e o funcionário da União Municipal dos Estudantes Vinicius Anversa. Em um desdobramento de uma discussão ocorrida durante a reunião, eles trocaram socos e chutes, e outros conselheiros se envolveram na briga. Veja imagens:
— Sempre tem discussão, mas, em 15 anos, foi a primeira vez que vi esse tipo de fato acontecer. Nós só lamentamos — disse o presidente do Comtu, Jaires Maciel.
A pancadaria coroou um encontro marcado pela tensão entre os conselheiros. Após a primeira votação, uma declaração da presidente da União Metropolitana dos Estudantes Secundaristas de Porto Alegre (Umespa), Vitória da Silva Cabreira, foi interrompida por diversas vezes pelo presidente do conselho e por Balinha, o que provocou exaltação de ânimos — durante a discussão, Vinicius repreendeu o rodoviário por interromper Vitória. A presidente da Umespa fez críticas ao reajuste, que motivou protestos dos estudantes na manhã desta sexta-feira.
—A gente acha que o valor de R$ 4,05 já é injusto pela qualidade do transporte público de Porto Alegre. Mas também porque a proposta aprovada está acima da inflação. Achamos que isso é um roubo — defendeu a estudante, que teve a mão machucada durante a confusão e registrou um Boletim de Ocorrência depois da briga.
A votação deu-se em dois momentos: primeiro, os conselheiros deram seu parecer sobre o relatório técnico da EPTC, que calculou a tarifa em R$ 4,50. Depois foi feita uma nova consulta, sobre o retorno da cobrança de 50% na segunda passagem, derrubado por decisão judicial em 2018. A aprovação da mudança, segundo cálculos da EPTC, tem impacto de R$ 0,20 sobre o valor da passagem, que ficou em R$ 4,30. Umespa, CUT, Brigada Militar e Fetapergs foram as únicas entidades a votar contra o reajuste da tarifa e a cobrança de 50% da segunda passagem.
—Temos a responsabilidade de manter o sistema funcionando. Enquanto tivermos esse modelo, custeado pelo usuário, teremos essa situação (o reajuste). A cobrança de matade da segunda passagem retira um benefício, mas o desconto de R$ 0,20 vai atingir todos os usuários. São escolhas que temos que fazer — justificou o presidente do Comtu ao final da votação.
Conforme a EPTC (Empresa Pública de Transportes e Circulação), um dos principais fatores para o reajuste é a diminuição no número de usuários do sistema de ônibus. Segundo o laudo, os passageiros pagantes teriam diminuído quase 11% no último ano — o valor da passagem é uma divisão do custo do sistema pelo número de usuários pagantes. A nova tarifa deve ser questionada na Justiça: integrantes da oposição se mobilizam para entrar com uma ação contra o acréscimo.
Antes da reunião, estudantes fizeram um caminhada de protesto nesta manhã. O grupo saiu da Escola Parobé e chegou na prefeitura da Capital por volta das 11h. Outras vias da Capital, como Alberto Bins, Coronel Vicente, Avenida Mauá, Loureiro da Silva e Túnel da Conceição, também tiveram fluxo interrompido.