"Por tanto amor, por tanta emoção a vida me fez assim, doce ou atroz, manso ou feroz, eu caçador de mim." (Milton Nascimento)
A capacidade de expressar emoção é única, pessoal e intransferível, e dela não se apossam os farsantes porque não há nada mais perceptível do que uma emoção falsa, por mais que tenha sido ensaiada. Essa exigência é tão intensa, que os maiores atores choram e sofrem de verdade quando o papel exige a exposição de um sentimento doloroso.
Sempre achei que esta exigência é o mais fascinante do teatro, onde o imenso desafio é entregar a mesma emoção, todos os dias. Esta capacidade é que distingue o grande ator daquele outro que devia ter um amigo com intimidade suficiente para lhe dizer: vá fazer outra coisa.
Nada se compara à arte, e acho que especialmente a música, na ressurreição de lembranças que só foram arquivadas pela emoção que provocaram.
A palavra, esse instrumento maravilhoso, pode ter sido criada, lá no início, apenas para que os nossos ancestrais se comunicassem primitivamente, mas na sociedade civilizada foi adquirindo uma importância crescente e encontrou no discurso seu momento de máxima sofisticação. Nos discursos com pretensão de homenagem, o componente emotivo é indispensável, e, nesse contexto, nada marca mais do que uma expressão de afeto inesperada, marcante pelo imprevisto. E isso porque todas as nossas experiências são arquivadas pela intensidade da emoção, ou deletadas, instantaneamente, pela falta dela.
A neurociência trouxe à luz do conhecimento o funcionamento bioquímico da emoção, com identificação de quais neurotransmissores participam, entre eles a serotonina, a dopamina, a noradrenalina e o ácido gama-aminobutírico (GABA). Alguns hormônios, como o cortisol, liberado durante situações de estresse, também podem influenciar a resposta emocional.
Igualmente interessante foi a identificação de quais áreas do cérebro têm participação mais ativa no processamento emocional, como o córtex pré-frontal, a amígdala e o hipotálamo, e a possibilidade de "iluminá-las" nos exames de imagem.
E este conhecimento adquirido mais acendeu a centelha da curiosidade sobre temas fascinantes como, por exemplo: por quais caminhos os estímulos externos funcionam como gatilhos para recuperar instantaneamente, dos nossos arquivos secretos, as recordações alegres ou sofridas?
Nesse sentido, nada se compara à arte, e acho que especialmente a música, na ressurreição de lembranças que só foram arquivadas pela emoção que provocaram. Claramente, desejar felicidade a alguém é almejar que se alegre muitas vezes e que, quando não houver outra opção, que ao menos chore de emoção.
Uma curiosidade com as emoções recapituladas: nos reprises de filmes, por exemplo, é comum que elas sejam percebidas de uma maneira diferente da estreia, porque entre os dois momentos distintos o nosso estado de espírito, de carentes ou saciados de afeto, pode ter nos tornado mais ou menos suscetíveis à emoção.
Minha insistência é considerar que a capacidade de externar emoção é um aditivo valioso da personalidade de quem decida conviver com pessoas ávidas de afeto, e certamente a colocaria como um pré-requisito inegociável na escolha pela medicina.
Tenho pena antecipada dos rígidos que, no inventário final, descobrirão que vida vivida ou desperdiçada só podia mesmo ser classificada pelo número de vezes que sentimos ou provocamos emoção. O resto será só tristeza na tentativa inútil de dar sentido ao vazio.