Correção: uma foto registrada pelo fotógrafo Jandyr Nascimento foi erroneamente publicada neste texto, entre as 14h27min e as 15h33min, como uma obra do pintor holandês Rembrandt. A imagem correta foi adicionada ao texto e a anterior, apagada.
“A arte existe para que a realidade não nos destrua.” (Friedrich Nietzsche)
O curso Medicina da Pessoa, em terceira edição, conta com o respaldo científico do Centro de Ensino e Pesquisa da Santa Casa e o apoio de 29 das melhores faculdades de Medicina do Brasil que estimularam a inscrição de 906 alunos.
A ideia desse curso nasceu há três anos, da percepção desconfortável de que, como médicos, vivemos um grande paradoxo: sabemos muito mais medicina do que os nossos antecessores, mas os pacientes não nos percebem melhores, e os mais idosos confessam com frequência que sentem saudade dos médicos de antigamente. A causa desse distanciamento, olhada com isenção, resultou óbvia: com as conquistas tecnológicas que nos permitem saber muito mais das doenças, nos esquecemos de como cuidar das pessoas que adoeceram.
Os 10 seminários que compõem o curso, que é gratuito e digital, abordam os principais desafios da relação médico/paciente e discutem quais instrumentos pedagógicos podem ser usados para reduzir a distância que nos separa dos pacientes.
Na sessão do dia 7 de agosto, o tema foi A Medicina e as Artes. Os apressados perguntarão: o que arte tem a ver com a formação médica? E nós responderemos que, diante da preocupação universal de humanizar a ciência médica, a arte será sempre um instrumento valiosíssimo porque qualquer forma de arte humaniza, na medida em que estimula o desenvolvimento da inteligência emocional.
Quem questiona esta ideia deve fazer parte do clube dos fleumáticos que se mantêm cegos às coisas que escapam da ciência e que na relação médico/paciente têm um papel relevante, porque quando adoecemos nos tornamos mais carentes de atenção e empatia.
A valorização da inteligência emocional facilitará o entendimento de por que alguns colegas têm um currículo impressionante, mas não têm pacientes. E pior ainda, os poucos que têm não se animam a agradecer-lhes, porque o pouco afeto que receberam não foi suficiente para destravar a válvula da gratidão.
O médico que vai envelhecer no século 21 deve estar preparado para enfrentar as agruras de trabalhar num país onde a qualidade de formação médica não interessa e a ozonioterapia foi liberada para uso, apesar do clamor das entidades médicas mais representativas.
Que o convívio com a arte enternece corações ninguém duvida, e todos concordam que é exatamente de mais ternura que as relações humanas, em geral, estão carentes.
Nestes tempos bicudos, temos que mirar na autoestima, sendo os melhores médicos que possamos ser. E isso, acreditem os mais jovens, inclui investir muito mais em humanização, que nos manterá em sintonia com as necessidades dos pacientes e inalcançáveis pelo robô, que, sendo rígido por concepção, será um festejado parceiro, imbatível no armazenamento de dados, e nada mais do que isso.
Que o convívio com a arte enternece corações ninguém duvida, e todos concordam que é exatamente de mais ternura que as relações humanas, em geral, estão carentes. E como a medicina, por suas características intrínsecas, é, reconhecidamente, a atividade humana mais exigente de afeto, qualquer estímulo que torne o médico do futuro mais delicado e empático será bem-vindo.