."A verdadeira generosidade é você dar tudo de si e ainda sentir-se como se isso não lhe tivesse custado nada." (Simone de Beauvoir)
Há muito se sabe que fazer o bem faz melhor àquele que o fez do que àquele que o recebeu.
O sentir-se bem sendo generoso está na essência do gesto e não no tamanho da doação. Não importa que o doador seja milionário, para quem a doação não tenha uma súper dimensão material. O que importa é o quanto a decisão de doar, o que quer que seja, tenha servido para modificar a vida de alguém.
Os que descobriram o encanto de doar passam a ser movidos pela gratidão do outro e se transformam, geralmente sem perceber, em arautos da doação.
Os que descobriram o encanto de doar passam a ser movidos pela gratidão do outro e se transformam, geralmente sem perceber, em arautos da doação, porque faz parte da personalidade da generoso, muito mais do que o bem material doado, servir de modelo a quem ainda não descobriu o fascínio de se envolver em uma tarefa solidária que, pela pureza de intenções, desencadeia um efeito cascata que ultrapassa os limites de própria individualidade.
Da minha experiência na Clínica Mayo, chamou-me a atenção que a maioria dos edifícios da instituição tivesse o nome de alguma família doadora. Indo atrás do motivo da doação, encontrei relatos geralmente envolvendo uma experiência médica bem-sucedida em que um familiar tinha sido salvo e o mérito atribuído a excelência do atendimento médico.
Mas na maioria dos casos uma placa ao pé do busto de um casal doador anunciava o gesto como retribuição ao trabalho oferecido e um estímulo para que a obra social se mantivesse.
A nossa Santa Casa, como hospital filantrópico, muitas vezes tem sido destinatária de doações de pessoas ou famílias que se sensibilizaram com o reforço institucional para tratar com dignidade os indigentes na era pré-SUS e depois (1988) para assegurar que os todos os pacientes tivessem acesso à tecnologia moderna que o SUS, com suas restrições econômicas, não conseguiria oferecer.
Famílias e grandes empresas com senso de responsabilidade social têm contribuído, de maneira mais expressiva ao longo dos últimos 40 anos, não apenas para restaurar a estrutura física, como construir unidades novas que qualificaram a instituição como um moderno complexo hospitalar que nunca negligenciou sua missão de misericórdia, expressa pela oferta de idêntica sofisticação tecnológica entre pacientes do SUS ou de convênios, usando o lucro do atendimento privativo para subsidiar o déficit do SUS.
Neste sentido, a inauguração do oitavo hospital do complexo terá importância fundamental na sustentabilidade futura da Santa Casa. A generosa contribuição do casal Alexandre Grendene e Nora Teixeira foi, e continuará sendo, decisiva para a concretização desse projeto, que, mais do que empolgação, exigirá continuidade.
Foi comovente e emocionante observar a reação da Nora quando soube que teria seu nome na linda fachada do hospital. Mas a comemoração durou pouco. Ela só quer saber dos novos projetos, envolvida que está neste círculo virtuoso que toma conta das pessoas bem resolvidas, que descobriram o incomparável prazer de cuidar de alguém e alcançaram a transcendência que envolve a percepção de que nada encanta mais do que dar a um desconhecido uma alegria que sozinho ele nunca conseguiria.