Quando andar de mãos dadas significava apenas compartilhar afeto, e isso podia ser tão bom que de algumas mãos não queríamos mais soltar, tudo se justificava pelo querer bem, esse sentimento que, infelizmente, por ser demasiadamente subjetivo, não pode ser colocado em nenhum dos algoritmos básicos da inteligência artificial.
Então chegou a ciência, sem ter sido convidada, para contar as últimas novidades e explicar que o simples toque de alguém na nossa pele faz com que ocorram reações em nosso corpo desencadeando respostas variadas, do tipo irritação e repulsa ou aconchego e acolhimento.
A principal dessas células, de função ultra específica, são as células de Merkel (há outras, recém apresentadas para essa função, não muito compreensíveis, mas, de qualquer forma, prazer em conhecê-las).
Uma condição humana que torna a proximidade física mais importante é, sem dúvida, a doença.
Para os seres humanos comuns, esses insignificantes dos quais estamos sempre querendo nos apartar (e no mais das vezes sem sucesso), tais reações bioquímicas não têm o menor significado porque, do ponto de vista prático, sempre parecerá suficiente a divisão entre agradáveis e desagradáveis.
Essas reações bioquímicas nunca explicarão, por exemplo, por que determinados toques seduzem e enternecem, enquanto outros são repelidos ou, o mais deprimente de todos, provocam indiferença.
Uma condição humana que torna a proximidade física mais importante é, sem dúvida, a doença, com o seu cortejo de sofrimentos e vulnerabilidades. Infelizmente, muitos médicos não percebem o poder do toque humano como instrumento de vínculo, e que logo adiante será a senha de acesso à parceria.
Quando o paciente diz que o médico, na primeira consulta, nem lhe encostou a mão, ele está reclamando disso, do afeto potencial abortado já no primeiro encontro.
Ed Gavagan (do TED "Uma história sobre nós e cirurgiões") é um jovem nova-iorquino que passou por uma experiência terrível, tendo sido esfaqueado numa rua escura do Brooklyn, levado ao hospital numa situação dramática e operado durante a noite, com múltiplas lesões vasculares graves que resultaram na necessidade de transfusão de 40 bolsas de sangue. Na manhã seguinte, despertou com uma dor excruciante que comparou ao acordar mergulhado num tanque de gelo.
Quando se deu conta de que o único lugar que não lhe doía era o peito do pé esquerdo, abriu os olhos e percebeu que exatamente naquele ponto se apoiava o polegar direito do cirurgião, plantado aos pés da cama, enquanto esperava que, por algum tipo de milagre, ele despertasse. O simples toque humano estabelecera ali um ponto único de analgesia.
E vá a ciência, com seu viés de objetividade compulsiva, explicar um fenômeno desses.
Enquanto isso, o Alcindo se recuperava de um trauma grave de crânio, alternando períodos aleatórios de superficialização do coma. Durante a manhã na UTI, um jovem fisioterapeuta se dedicava a massagear as mãos, depois que contei da experiência de voluntários americanos que, usando esse método elementar em cuidados paliativos, constataram uma redução em 50% do uso de analgésicos nesses pacientes.
Um dia, depois de uns 10 minutos de massagem, já se preparava para ir embora, quando um pedido do paciente surpreendeu a todos: "Por favor, massageie mais um pouco, eu ainda não estou preparado para ficar sozinho com essas pessoas que nem olham na minha cara".
Ainda demorará um tempo para a ciência explicar a reação química que provoca a ternura. Enquanto isso, seguiremos testando fórmulas complexas que mascarem melhor a dor da solidão.