A vida do editor de notícias está cada vez mais enroscada. De um lado, a preocupação de não ser ultrapassado pelo concorrente que pode anunciar a qualquer momento uma notícia importante. Do outro, a responsabilidade de separar a verdade deste lixo que inunda o submundo da informação, em que há uma disputa acirrada para ver quem produz a notícia falsa mais crível. Quando a má informação mexe com saúde, o imaginário popular multiplica o dano, confirmando que a velocidade de disseminação da estupidez é infinitamente superior à de qualquer vírus. E igualmente não tem vacina.
Como as notícias têm sido rotineiramente trágicas, há nesta enxurrada de informações o risco verdadeiro de induzir ao que podemos chamar de "intoxicação de desgraça". E, então, o cidadão comum abandona o telejornal e migra para o BBB, onde predomina a idiotia, mas temos que admitir que o nível de estresse é quase zero. Digo quase porque a escolha do líder sempre gera alguma ansiedade. Se esse quadro desperta tensão nos leigos que ouvem as novas, mas acham que não têm nenhum compromisso de mudar o desenrolar dos acontecimentos (porque, afinal, isso é responsabilidade dos "homens lá de cima"), imagine-se a angústia de quem tem de decidir como lidar com uma realidade que insiste em ser dramática.
A velocidade de disseminação da estupidez é infinitamente superior à de qualquer vírus."
A busca desse equilíbrio tem revelado admirável maturidade e profissionalismo dos gestores do Ministério da Saúde, liderados por Luiz Henrique Mandetta, que vêm fazendo um trabalho de extrema competência, para que ninguém tenha a pretensão de acusá-los de negligência, e mantendo a serenidade para impedir o pânico, que é vizinho de porta da ignorância. Quando o New England Journal of Medicine, o semanário médico mais conceituado do mundo, publicou os dados clínicos dos primeiros 1.099 pacientes, oriundos de 30 províncias chinesas, algumas coisas ficaram evidentes: desses enfermos, 5% foram internados em UTI, 2,3% necessitaram de respiração artificial e 1,4% morreram.
A relativa tranquilidade de constatar-se que era menos letal, por exemplo, do que o influenza H1N1 ignorou, num primeiro momento, uma característica muito peculiar da covid-19: ele tem uma grande capacidade de disseminação, traduzida pela velocidade com que se alastrou pela Europa, rompendo barreiras sanitárias com rapidez incomum.
A evolução no Brasil foi característica: primeiro, os casos de viajantes chegados da Ásia ou Europa, depois seus convivas, e por fim pessoas que nem viajaram, que conheceram quem tenha viajado. Percebeu-se então que a observação inicial de que há necessidade de UTI para só 5% dos contaminados poderá representar grave preocupação, se muitas pessoas foram contaminadas em curto período, porque então os 5% poderão comprometer as reservas de leitos de UTIs disponíveis. E aqui uma conclamação: os ingressos para espectadores estão esgotados, todos precisam ajudar.
Como toda a epidemia viral é autolimitada, essa também passará, e a previsão é de que as coisas se normalizem em quatro meses. Até lá, a nossa parte é desacelerar a progressão da doença, e para isso, temos que: lavar as mãos depois que tocar em superfícies que foram tocadas por outras pessoas, evitar aglomerados, usar máscara quando for inevitável a circulação em locares congestionados, e proteger nossos velhinhos, mantendo-os em casa, porque eles são os mais vulneráveis, especialmente os portadores de doenças crônicas como diabete, cardiopatia e enfisema. Se conseguirmos evitar que a curva de aumento dos contaminados seja tão ascendente, daremos conta de oferecer tratamento adequado a todos os futuros pacientes. Com esses cuidados, quando a primavera chegar, estaremos outra vez saudáveis e livres para compensar, com exagero, todos os abraços por ora reprimidos.