A escritora nigeriana Chimamanda Adichie é um dos grandes nomes da literatura mundial, arrisco a dizer que qualquer dia desses ela deve levar o Prêmio Nobel de Literatura. Dona de uma escrita bastante precisa e contundente, Chimamanda produziu um épico contemporâneo chamado Americanah. No romance, a personagem Ifemelu muda-se da Nigéria para estudar nos EUA. Em território americano, a protagonista se torna, em poucos anos, uma destacada intelectual.
O livro aborda, entre tantos temas, as questões raciais. Em determinado momento, Ifemelu elabora uma série de perguntas para que pessoas não negras pudessem pensar sobre seus privilégios.
Inspirado nesses questionamentos de Americanah, decidi na coluna desta semana propor outros questionamentos para pensarmos juntos. Caso você, leitor, responda “não” para a maioria das perguntas, é provável que você compreenda bem o que é ter privilégio branco:
Quando você vai ao supermercado, tem medo de que sua cor sirva como argumento para você ser espancado por seguranças?
Quando você compra uma bicicleta, já cogitou andar com a nota fiscal dela para provar que é sua quando for abordado pela polícia?
Você já pensou em fazer selfies para comprovar que esteve nos lugares que disse, caso seja confundido com um bandido?
Quando você fala em igualdade racial, é automaticamente alçado a ativista raivoso?
Quando você faz algum trabalho artístico, sempre ouve que se trata de uma denúncia contra o racismo, mesmo que ele não seja?
Quando você diz que sabe falar de outra cultura diferente das relacionadas a sua cor, você é acusado de alienado?
Você é frequentemente perguntado como é ser um artista/empresário da sua cor no Brasil?
No mês de novembro, sua agenda fica lotada porque as pessoas de outra cor lembram que precisam chamar alguém da sua cor para falar sobre racismo?
Você tem dificuldade de encontrar pessoas da sua cor em postos de prestígio (presidências de instituições, juízes, professores universitários)?
Você teria muita dificuldade em descobrir a identidade de seus ancestrais?