Você já pensou em se candidatar a uma vaga para a Academia Brasileira de Letras? É simples: se você já publicou um livro em qualquer gênero literário e é brasileiro, é só enviar seu currículo e uma carta para o presidente da Academia. Fácil, não? Pero no mucho.
Na semana passada, a formalização das candidaturas da atriz Fernanda Montenegro e do músico Gilberto Gil para uma vaga trouxe novamente a discussão: afinal de contas, para que serve mesmo a ABL? E que critérios são esses que já elegeram para imortais nomes como o de Ivo Pitanguy, cirurgião plástico, ou Roberto Campos, ex-ministro do Planejamento do governo Castelo Branco? O que esse povo tem a ver com o mundo das letras?
Segundo o próprio site da ABL, a Academia tem a função de zelar pela língua e literatura brasileiras, promovendo cursos e oficinas. Já os critérios têm a ver com a fundação da própria ABL, que copia o modelo da Academia francesa, que elege membros também por sua notoriedade em outras áreas da cultura.
Para ser membro da ABL, você precisa muito mais do que um trabalho consistente. Mario Quintana que o diga. Após se candidatar três vezes e perder para nomes inexpressivos, o poeta gaúcho desistiu de se candidatar pela quarta vez, mesmo tendo os votos assegurados.
Recentemente, a ABL também esnobou a candidatura de Conceição Evaristo e perdeu a chance de eleger a primeira escritora negra. Aliás, a Academia parece às vezes se esquecer de onde veio, e que foi fundada por um escritor negro. É só dar uma rápida passada na lista dos imortais para perceber que a maioria são homens brancos.
Segundo a escritora Nélida Piñon, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, o candidato precisa criar um vínculo afetivo e intelectual com os membros da Academia, aproximar-se dos imortais, fazer campanha corpo a corpo. Nessa entrevista, Nélida se referia ao possível erro que a escritora Conceição Evaristo teria cometido ao não seguir tais exigências para ser eleita.
A verdade é que a ABL é elitista e pouco diversa. Ainda assim, minha torcida vai para o Gil.