Na semana passada o governador Eduardo Leite vetou integralmente o projeto de lei que regulamenta a prática do homeschooling. No entanto, caso fosse aprovado, o projeto seria a pá de cal que faltava na educação brasileira. O ensino domiciliar no Brasil, no modo como foi proposto, e num contexto em que a educação não é valorizada, seria inviável e só aumentaria as desigualdades e o abandono escolar.
Penso nos pais que já enfrentam dificuldades para auxiliar seus filhos nos temas de casa, ou por falta de tempo ou por desconhecimento técnico. Além disso, os defensores dos estudos exclusivamente em casa parecem nutrir um desprezo pelas técnicas pedagógicas, não fazem ideia do quanto um professor se prepara para chegar na sala de aula.
Aliás, um professor é professor em tempo integral. Um professor não se distrai nem quando vê um filme por lazer, pois ele pensa: “Isso aqui eu posso usar em sala de aula”. Um professor não dorme. Ele apenas descansa à espera da próxima aula. Quando um professor viaja de férias, ele imagina: “Vou contar essa experiência aos meus alunos”. Quando um professor lê um livro no final de semana, ele projeta: “Vou indicar essa obra para minha turma”. No meio do almoço de domingo, com a família, o professor pensa: “Daqui a pouco tenho que me preparar para as aulas da semana”.
Tornar-se responsável pela formação dos próprios filhos exigiria um esforço que ocuparia a vida integral dos pais. Pensem nisso. Porque se não for assim, o ensino domiciliar seria um desastre. Além disso, a falta do convívio escolar causaria uma falha no que diz respeito à importância da socialização.
A escola é muito mais que o despejo de conteúdo. A escola é um ensaio para a vida. Uma imitação do mundo. Um treino para um convívio em sociedade de maneira ética. Ao negar isso aos filhos, os pais que defendem o chamado homeschooling negam também a possibilidade de exercer uma cidadania plena. Ninguém nasce cidadão. Cidadania é algo que se aprende. E se aprende na escola.