O filme Paternidade, dirigido por Paul Weitz e protagonizado pelo ator Kevin Hart, estreou no catálogo da Netflix no último dia 18 e conta a história de Matt, um viúvo que precisa lidar com o luto de uma morte recente e a educação de uma filha recém-nascida.
Embora o filme tenha boa intenção no sentido de apresentar uma outra paternidade, que se diferencia daquela regida pelo abandono, pela violência ou pelo trauma, Paternidade peca ao romantizar e idealizar a figura do homem infantilizado que não sabe as coisas básicas como trocar fraldas, ou esquentar uma mamadeira, por exemplo. Romantiza e trata com heroísmo a figura do “pai solo”, que sofre ao ter que levar a filha para o trabalho e ser questionado pelo chefe.
No filme, que se propõe como uma comédia dramática, o protagonista ganha com facilidade a simpatia de seus clientes, que veem naquele exercício paterno solo um ato louvável. E é louvável. Mas não deixa de ser um privilégio masculino.
Fico pensando que as coisas seriam diferentes se uma mulher estivesse na mesma situação. Talvez, dificilmente, esta mulher teria o mesmo tratamento, já que sabemos que as mulheres, em sua grande maioria, sofrem com o machismo no ambiente corporativo e que levar um filho para o trabalho não é bem assim.
Além disso, o filme não toca em questões raciais, já que os protagonistas são negros. O que, de certo modo, pode ser positivo porque naturaliza a presença de negros sem necessariamente tocar em assuntos referentes ao racismo. Entretanto, embora o foco do filme se apoie na descoberta e na construção paterna, o recorte racial ainda seria importante porque sabemos que homens negros, em sua grande maioria, continuam sofrendo com a violência provocada pelo racismo, e isso certamente impacta na sua relação com os filhos.
Paternidade não deixa de ser um filme propositivo, pois, apesar das falhas, ainda apresenta um perfil paterno mais afetivo e mais profundo, indicando, assim, que uma outra paternidade é possível.