Até a terça-feira (3), eram militares da reserva dando recados ao Supremo Tribunal Federal (STF). Diziam que impedir a prisão de condenados em 2ª instância é privilegiar a corrupção e levar o país ao caos. Uma referência direta ao julgamento, nesta quarta-feira (4), do habeas corpus que pode manter em liberdade o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), condenado em duas instâncias a 12 anos de prisão por corrupção. Entrevistas nesse sentido foram dadas pelo general de Exército Luiz Gonzaga Lessa (reservista, ex-Comandante Militar do Leste) e pelo general Paulo Chagas, também da reserva e candidato a governador do Distrito Federal. Esse, o mais explícito:
"Nosso objetivo principal...é impedir mudanças na lei e colocar atrás das grades um chefe de organização criminosa já julgado e condenado".
Na noite de terça-feira, porém, o próprio comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, tuitou mensagem cifrada.
"Nessa situação que vive o Brasil, resta perguntar às instituições e ao povo quem realmente está pensando no bem do País, e da gerações futuras, e quem está preocupado com interesses pessoais? Asseguro à Nação que o Exército Brasileiro julga compartilhar o anseio de todos os cidadãos de bem, de repúdio à impunidade..."
Não mencionou o julgamento do habeas corpus de Lula. Nem precisava. A mensagem foi devidamente interpretada por seus colegas de farda. Um dos primeiros a saudar o tuíte do comandante foi o general José Luiz Dias Freitas, Comandante Militar do Oeste (que abrange a região Centro-Oeste do país).
"Estamos juntos. Mais uma vez o Comandante do Exército expressa as preocupações e anseios dos cidadãos brasileiros que vestem farda".
O general Geraldo Miotto, Comandante Militar da Amazônia (e que em poucos dias será Comandante Militar do Sul), respondeu no Twitter:
"General Freitas! Estamos firmes e leais ao nosso Comandante! Brasil acima de tudo! Aço!".
Dois outros generais menos graduados também responderam estar prontos para atender o chamado do Comando.
Esses foram os da ativa. Os da reserva permanecem falantes. O general Antônio Hamilton Mourão, que recentemente virou reservista e no passado criticou a ex-presidente Dilma Rousseff, repetiu que as Forças Armadas devem intervir se o país mergulhar no caos. E mandou mensagem amigos:
"Atento e peleando pelo Brasil".
Até mesmo generais que estão no governo se manifestaram. Um dos mais prestigiados militares brasileiros, o general Carlos Alberto Santos Cruz, segundo em comando no Ministério da Segurança Pública, mandou aos amigos, por WhatsApp, a seguinte frase:
"O crime organizado armado e o crime organizado desarmado precisam ser combatidos igualmente, por todos, de modo implacável".
Todos esses comentários, ao que tudo indica, não por coincidência, foram feitos no dia do julgamento do habeas corpus de Lula. O que mudou é que agora não só os militares de pijama, mas também os fardados (sujeitos à punição por opiniões políticas) saíram do anonimato.