A jornalista Carolina Pastl colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
O anúncio de data e volume a serem adquiridos acentuou o debate em torno da importação de arroz pelo governo federal. O leilão, que será operacionalizado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), está marcado para o dia 6 de junho e prevê a compra de até 300 mil toneladas. A operação tem como limite R$ 1,7 bilhão. Para a equalização, R$ 630 milhões são o teto.
A medida, que já havia sido sinalizada pelo governo — com um leilão marcado e, depois, suspenso —, tem gerado críticas do setor de arroz do Rio Grande do Sul, que responde por 70% da produção nacional. A cultura está em plena safra.
— Este anúncio é a confirmação de um grande erro. Um erro que pode, inclusive, desestruturar novamente toda a cadeia do arroz. Não só o produtor, mas também as cooperativas e as indústrias. O prejuízo é de todos — destaca Alexandre Velho, presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Estado (Federarroz-RS).
O governo, por sua vez, argumenta que a iniciativa se faz necessária para frear a especulação de preços.
— Não temos risco de nenhum tipo de desabastecimento, nem mesmo do arroz. O estoque é suficiente. O problema é a conjuntura momentânea. Estamos combatendo a especulação do arroz — afirmou o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro.
O titular da pasta frisou em sua passagem pelo Estado que os preços ao consumidor final teriam subido entre 20% e 30% em um mês.
— O produtor não coloca o preço de venda no seu produto. Qualquer produto segue as regras de mercado, de oferta e demanda, e quem provocou o aumento foi o próprio governo ao anunciar uma compra de grande quantidade de arroz totalmente desnecessária e inoportuna — argumentou o presidente da Federarroz-RS.
Ao todo, a Conab está autorizada a importar até 1 milhão de toneladas de arroz beneficiado ou em casca. No entanto, o presidente da estatal, Edegar Pretto, pondera:
— Não queremos que isso compita com a produção nacional. Vamos avaliar o comportamento do mercado, se já regularizou os preços, para então verificar a necessidade de um novo leilão.
Como funcionará a operação na primeira aquisição, segundo a Conab
A expectativa do governo é de que o leilão para importação de arroz reúna diversos países estrangeiros. Para isso, o Comitê Executivo de Gestão (Gecex), da Câmara de Comércio Exterior (Camex), aprovou a resolução de zerar até o fim do ano a Tarifa Externa Comum (TEC) para a importação de arroz de países de fora do Mercosul. De acordo com Pretto, foi isso que fez com que o leilão fosse adiado.
A autorização da compra, publicada em edição extra do Diário Oficial da União, ocorre mesmo após o setor produtivo gaúcho garantir que, apesar das perdas pelas cheias, existe produto para dar conta da demanda doméstica.
O produto adquirido de outros países será colocado no mercado com selo do governo federal na embalagem, e preço de venda definido em até R$ 4 o quilo. A entrega, que deve ser feita até setembro, é destinada a mercados das regiões metropolitanas de todo o Brasil cadastrados pela Conab.
Com relação ao valor, o diretor de Política Agrícola e Informação da Conab, Silvio Porto, explicou que o deságio estabelecido foi de 20% em relação ao preço do cereal praticado no mercado nos últimos 30 dias.
O presidente da Federarroz também critica, no entanto, o valor. Conforme o dirigente, em uma lista de 97 produtores de arroz, só na Índia o preço do quilo é inferior a R$ 5.
A importação em plena entrada de safra preocupa porque poderá representar um desestímulo ao agricultor, com potencial de se converter em redução de área cultivada no próximo ciclo — neste houve um aumento de 7,5%, após anos de recuo.