No mesmo dia em que o governo federal publicou medida provisória autorizando a importação de até 1 milhão de toneladas de arroz, entidades do setor emitiram uma nota em que descartam a possibilidade de desabastecimento do produto no país — o Rio Grande do Sul responde por cerca de 70% da produção nacional do cereal. A União diz que o objetivo da medida é dar tranquilidade ao mercado, evitando assim a especulação de preços. As federações e os sindicatos que assinam a nota, avaliam, no entanto, que ao comprar produto de fora sob o argumento de garantir o acesso ao produto, o efeito é justamente o contrário.
— Se eventualmente houver uma menor oferta de arroz ao mercado consumidor por questões de logística ou perdas, naturalmente o volume importado vai aumentar um pouco. Não precisa o governo fomentar uma polêmica desnecessária sobre abastecimento, que cria especulação. Teremos uma safra muito perto da normalidade — ressalta Anderson Belloli, diretor jurídico da Federação das Associações de Arrozeiros do Estado (Federarroz-RS).
A afirmação de que não faltará produto vem acompanhada de números da safra. Conforme o comunicado, dados oficiais apontam que 84% da área semeada com arroz havia sido colhida antes do início das chuvas. Isso faz leva a uma projeção de safra de 7,15 milhões de toneladas, volume que é 1,24% menor do que o do ano passado.
Na quarta-feira (08), como publicou a coluna, boletim do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), apontava que faltam ser colhidos 142,14 mil hectares dos 900,2 mil hectares cultivados. Desses, 22,95 mil hectares estão totalmente perdidos e 17,9 mil parcialmente submersos, restando 101,31 mil hectares hectares não atingidos pelas cheias. Dessas áreas perdidas, a maior parte está na Região Central. É com base na quantidade já colhida, 6,44 milhões, e no rendimento médio estimado, de 7 mil quilos por hectare, que se projeta a safra de 7,15 milhões de toneladas. Quantidade suficiente para abastecer a população brasileira, argumenta o presidente da Federarroz-RS, Alexandre Velho:
— Quanto mais o governo fala em importar, mais assusta o consumidor, que corre para comprar uma quantidade bem maior, e aí que provoca o desabastecimento.
A Federarroz está divulgando cards com essas informações sobre a safra.
A nota
Leia a íntegra da nota, assinada por Federarroz-RS, Fearroz, Sindapel e Sindarroz
Nota à Sociedade Brasileira
As entidades representativas do setor orizícola do Rio Grande do Sul, Estado responsável por mais de 70% da produção de arroz do Brasil, por meio de seus representantes, vêm a público, haja vista a situação de calamidade pública que assola os gaúchos, em decorrência da enchentes que atingiram inúmeros municípios do Estado, informar, de plano, pelas razões abaixo, que inexiste risco de desabastecimento de arroz ao mercado consumidor.
Verifica-se que, diante da atual conjuntura no Estado do Rio Grande do Sul, é natural que haja apreensão com relação às condições de abastecimento do arroz no Brasil, haja vista os significativos danos causados pelas chuvas torrenciais que ocorrem no Estado que concentra a produção e a industrialização do cereal no país.
Todavia, conforme dados oficiais, tem-se que 84% da área cultivada no Estado foi colhida antes do início das chuvas, de modo que a projeção da safra 2023/2024 atinge aproximadamente 7.150 mil toneladas, o que representa uma redução de cerca 1,24% em relação ao volume produzido na safra anterior.
Assim, percebe-se que a possível diminuição da disponibilidade de arroz em razão das perdas de produtores afetados pelas enchentes que assolam o Estado será, inevitavelmente, compensada pelo incremento da importação e perda de competitividade do arroz brasileiro no Mercado externo.
Cumpre referir, ainda, que as dificuldades de escoamento da produção enfrentadas em razão da interdição de estradas estaduais e federais serão, brevemente, superadas em decorrência do empenho de todo o país e da natural reorganização das cadeias produtivas.
Reforçamos, desse modo, o entendimento de que a catástrofe climática que assola o Rio Grande do Sul não impõe qualquer ameaça ao abastecimento de arroz à população brasileira, de modo que seguiremos (produtores rurais, cooperativas e indústrias) comprometidos com a missão de garantir a segurança alimentar do Brasil.
Federação das Associação de Arrozeiros do Estado do Rio Grande do Sul – Federarroz
Federação das Cooperativas de Arroz do Rio Grande do Sul – Fearroz
Sindicato das Indústrias de Arroz de Pelotas – Sindapel
Sindicato das Indústrias do Arroz do Estado do Rio Grande do Sul – Sindarroz