O anúncio de autorização para a importação de até 300 mil toneladas de arroz, publicado em edição extra do Diário Oficial da União, concretiza a medida anteriormente sinalizada. Sob o argumento de conter a alta especulativa de preços ao consumidor, o governo federal injetou recursos (R$ 7,2 bilhões, no total) para viabilizar essa compra via Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). A ação é vista, no entanto, com preocupação pelo setor produtivo gaúcho — o Rio Grande do Sul responde por 70% da produção nacional do cereal. Mesmo com as perdas decorrentes das enchentes, a avaliação é de que a safra é suficiente para atender à demanda do mercado interno.
— Vamos observar qual será o interesse (no leilão). Este anúncio é a confirmação de um grande erro. Um erro que pode, inclusive, desestruturar novamente toda a cadeia do arroz. Não só o produtor, mas também as cooperativas e as indústrias. O prejuízo é de todos — destaca Alexandre Velho, presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Estado (Federarroz-RS).
De acordo com a portaria publicada, neste primeiro leilão, as despesas para a compra estão restritas a R$ 1,7 bilhão, com o limite de R$ 630 milhões para a equalização. O produto será vendido ao consumidor final por um preço tabelado de R$ 4 por quilo, com logomarca do governo federal. Durante a visita ao RS, questionado sobre a medida, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, disse que é preciso "pensar o momento difícil com um olhar holístico, para o Brasil como um todo".
— Daremos toda a atenção e estímulo ao produtor de arroz, é uma certeza. Agora, é impossível conviver com a especulação. Se alguém puder ter uma justificativa óbvia de por que um pacote sobe entre 20% e 30% em 30 dias, e qual a solução para isso... A atuação do governo não é para afrontar ou tirar competitividade, mas sim, para trazer equilíbrio — acrescentou Fávaro.
O setor diz que existe produto para atender o mercado interno. Sobre a colocação, o presidente da Federarroz-RS contrapõe:
— O produtor não coloca o preço de venda no seu produto. Qualquer produto segue as regras de mercado, de oferta e demanda, e quem provocou o aumento foi o próprio governo ao anunciar uma compra de grande quantidade de arroz totalmente desnecessária e inoportuna.
Conforme Velho, em uma lista de 97 produtores de arroz, só na Índia o preço do quilo é inferior a R$ 5. Na tarde desta quarta-feira (29), a Conab irá conceder uma entrevista coletiva com detalhamentos sobre esse primeiro leilão autorizado.