A jornalista Bruna Oliveira colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
A safra 2023/2024 já se desenha desafiadora em termos de clima e de custos. Justamente por isso, deve demandar ainda mais recursos para os seguros agrícolas.
As mudanças de temperatura e de frequência da chuva — com excesso ou falta dela a depender da região, devem permanecer no radar dos produtores no próximo ano, conforme os prognósticos até aqui. Com este cenário colocado, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) estima que será necessário o triplo do valor do seguro rural previsto para 2024, que é de R$ 1,06 bilhão.
Ou seja, na análise da entidade, o orçamento do programa de subvenção ao prêmio do seguro rural (PSR) precisará ser consideravelmente mais robusto para dar conta dos pedidos.
Para o economista-chefe da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), Antônio da Luz, mais do que a falta de orçamento, a ausência de olhar para o tema preocupa:
— Para se ter um seguro rural funcional, que de fato cause impacto, precisamos ter um aporte muito mais significativo. O seguro rural não foi sequer citado no material de Plano Safra deste ano. Precisamos de pelo menos o triplo do valor orçado, mas o governo vai executar metade.
As últimas quebras de safra pioraram as condições para a contratação dos seguros agrícolas. E quando mal haviam se recuperado dos prejuízos das estiagens, os produtores precisaram lidar com o alto volume de chuva. O excesso de umidade visto nesta primavera exige maior aplicação de insumos para salvar a colheita, o que levou a um custo ainda maior da produção.
Conforme levantamento da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado (Fetag-RS), as intempéries de 2023 deixaram uma perda de R$ 57,9 bilhões em receita aos produtores gaúchos.
Muitos produtores de soja ainda tiveram problemas no plantio e precisaram replantar, o que pode acarretar novos prejuízos no decorrer do ciclo.
— O limite da zona de plantio está chegando e a produção não vai atingir 100%, porque quanto mais tarde fica, mais difícil é atingir o objetivo de um potencial produtivo regular. Isso com certeza pode resultar em perda da produtividade e consequente necessidade de abrir chamados de seguro. Nem todas as apólices cobrem replantio, mas algumas delas sim. Do ponto de vista jurídico, a recomendação é que o produtor produza prova. Tem que ter acompanhamento da sua lavoura. Isso é fundamental para o sucesso da cobrança do seguro — diz o a advogado e também produtor de arroz e de soja no Estado, Maurício Gewehr, do escritório Kipper Gewehr.
A preocupação com os efeitos do clima, turbinados pela influência do La Niña e do El Niño no mesmo ano, esteve presente nos principais balanços do setor e nas perspectivas traçadas para 2024. A CNA estima um enxugamento de até 2% no Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio do ano que vem, em comparação a este ano. A queda vem juntamente com quebra na produção da safra de grãos 2023/2024 em razão das projeções climáticas.