A jornalista Carolina Pastl colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
A condição climática, mais uma vez, não deve dar trégua para os produtores rurais em 2024. Sob efeito do El Niño até janeiro e, depois, com possibilidade de La Niña, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) estima um enxugamento de até 2% no Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio do ano que vem, em comparação ao de 2023. Esses e outros dados foram divulgados nesta quarta-feira (6), durante coletiva sobre o balanço do setor em 2023 e as perspectivas para 2024.
— O ano de 2024 não vai ser de normalização, mas de acentuação dos prejuízos de 2023 — frisa o diretor técnico da CNA, Bruno Lucchi.
É que, neste ano, mesmo com recorde na safra recorde de grãos do Brasil, a receita minguou. As quebras no Rio Grande do Sul foram compensadas pelos rendimentos das lavouras do Centro-Oeste, que ajudaram a totalizar as 321,4 milhões de toneladas na safra 2022/2023, conforme dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). No entanto, os custos de produção seguiram em patamares elevados, e os preços recebidos pelos grãos aos produtores caíram. No caso da soja, por exemplo, graças à entrada da nova safra no Brasil e, depois, ao esfriamento da demanda global do grão.
Para 2024, o cenário tende a se manter complexo. A CNA projeta queda na produção da safra de grãos 2023/2024 em razão das projeções climáticas — de El Niño (chuvas acima do normal no RS) e depois perspectiva de La Niña (chuvas abaixo do normal no RS). A redução é estimada em 1,5%, em comparação ao ciclo 2022/2023, chegando a 316,7 milhões de toneladas no Brasil. Por conta dessa perspectiva, a CNA estima que será necessário o triplo do valor o seguro rural previsto para 2024, que é de R$ 1,06 bilhão.
A perda de fôlego do crescimento mundial é outro motivo apontado pela entidade que deve puxar o PIB para baixo. Só a China, principal destinos das exportações brasileiras do agro, deve reduzir sua taxa de crescimento de 5,1% em 2023 para 4,6% em 2024. Os conflitos e as tensões bélicas internacionais também podem implicar aumento do protecionismo e das barreiras comerciais, além de desordem na cadeia global de suprimentos.
A queda projetada no PIB do agro, no entanto, explica Lucchi, vem depois dos três maiores valores da série histórica do Cepea/CNA, iniciada em 1996: o PIB do agro de 2021, de 2022 e de 2023 (projeção). Neste ano, já deve haver um recuo, de 0,94%. Mesmo assim, a soma pode alcançar R$ 2,6 trilhões no ano — terceiro maior valor.