O Produto Interno Bruto (PIB) do país cresceu 1,9% no primeiro trimestre de 2023, na comparação com o último trimestre do ano passado. Conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o resultado foi puxado, principalmente, pelo avanço de 21,6% na agropecuária — a maior alta para o setor desde o quarto trimestre de 1996.
Na comparação com o primeiro trimestre de 2022, o PIB cresceu 4%. No acumulado dos quatro trimestres terminados em março de 2023, o indicador registra alta de 3,3%.
O PIB, que é a soma dos bens e serviços finais produzidos no Brasil, chegou a R$ 2,6 trilhões em valores correntes.
PIB do “susto”: se todo o 2023 fosse assim, Brasil cresceria acima de 8%
Leia a coluna completa
O desempenho divulgado nesta quinta-feira (1º) é fruto de uma alta expressiva da agropecuária (21,6%), cujo peso é de 8% no indicador, e uma elevação mais contida dos serviços, que têm a maior representação e avançou apenas 0,6% entre janeiro e março. Na relação com os três primeiros meses de 2022, os avanços foram de 18,8% e 2,9%, respectivamente.
Já a indústria refletiu um quadro de estabilidade (-0,1%). As explicações passam por uma queda generalizada nos bens de capital e bens intermediários. Por outro lado, na comparação com o período encerrado em março do ano passado, o setor subiu 1,9%, com altas verificadas nos segmentos extrativas (7,7%), puxada pela alta do petróleo, eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos (6,4%) e construção (1,5%).
De acordo com o economista-chefe da Farsul, Antônio da Luz, o resultado veio um pouco abaixo do esperado. E a explicação encontra amparo no que ele considera um desempenho fraco dos serviços:
— A nossa projeção, e que estava alinhada com o consenso de mercado, era crescimento de 2,2% e veio 1,9%. A diferença basicamente está nos serviços, que esperávamos um pouquinho mais forte.
Dependência
Economista e coordenador de contas nacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), e um dos autores do Monitor do PIB da instituição, Cláudio Considera classifica o desempenho como positivo. Por outro lado, chama a atenção para o aumento da dependência do agronegócio.
Esse fator também fica evidenciado pela declaração da coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis, quando afirma que os "problemas climáticos que impactaram negativamente a agropecuária ano passado" geram, em 2023, uma previsão de safra recorde de soja, o que representa aproximadamente 70% da lavoura nacional no trimestre.
— A safra da soja é concentrada no primeiro semestre do ano. Ao compararmos o quarto trimestre de um ano ruim com um primeiro trimestre bom, observamos esse crescimento expressivo — analisou Considera.
Por essa razão, o economista da FGV lembra que mesmo o desempenho dos serviços está associado ao meio rural. Isso ocorre porque ao abrir os relatórios setoriais é possível perceber que o maior crescimento veio dos transportes (relacionado com o escoamento dos grãos) e ficou em 1,2% na comparação com o trimestre imediatamente anterior e 5,1% na relação com os primeiros três meses do ano passado.
Por outro lado, Considera identifica que o desempenho negativo da indústria obedece à mesma lógica, só que, desta vez, o setor não conseguiu reagir aos estímulos da safra. Ele lembra que o segmento de transformação envolve o processamento do óleo de soja e também os abates de bovinos, suínos e aves, mas "estranhamente" não reagiu aos estímulos.
– O resultado indica crescimento e uma melhora na atividade econômica, embora o setor mais importante, que é a indústria de transformação, tenha caído (0,9%), enquanto outros crescem. O problema é que isso se repete ao longo de muitos meses – lamenta.