A situação de estiagem, com perdas impostas à produção gaúcha no último verão, ofusca a colheita nacional de grão, que bateu novo recorde e empurrou com força o crescimento econômico do Brasil no primeiro trimestre, como mostram os dados do PIB divulgados pelo IBGE. Seja na comparação com o trimestre imediatamente anterior (+21,6%, o maior aumento desde o quarto trimestre de 1996) ou com igual trimestre do ano passado (+18,8%), o desempenho da agropecuária impressiona. No quesito tamanho de força, chama a atenção ainda o peso do setor: respondeu por 1,6 pontos percentuais na alta de 1,9% do PIB brasileiro.
— A safra da soja é concentrada no primeiro semestre do ano. Ao compararmos o quarto trimestre de um ano ruim (com impacto de problemas climáticos) com um primeiro trimestre bom, observamos esse crescimento expressivo da agropecuária — analisou a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis.
E esse efeito positivo promete manter o ritmo, tendo impacto importante no desempenho do PIB brasileiro no segundo trimestre.
— A agropecuária deverá crescer na casa de dois dígitos em 2023, e emprestará um crescimento forte ao Brasil. Neste primeiro trimestre, mais do que nunca, carregou a economia do Brasil. E isso se deve a uma imensa de uma safra — pondera Antônio da Luz, economista-chefe da Federação da Agricultura do RS (Farsul).
No levantamento de maio, o IBGE projetou uma colheita de grãos de 302,1 milhões de toneladas neste ano, o que representa 14,8% a mais do que em 2022. Mesmo no Rio Grande do Sul, onde houve estiagem, o PIB deverá trazer um crescimento no primeiro trimestre deste ano. É o que projeta Luz — os dados oficiais ainda não foram divulgados —, com base no resultado da economia gaúcha em igual período do ano passado. Porque em 2023, mesmo com os impactos da falta de chuva, o volume colhido será maior do que o de 2022, também ano de falta de chuva.
O economista da Farsul chama a atenção, no entanto, para um limitador de crescimento: a falta de infraestrutura (armazéns, estradas, logística) para acomodar a produção que cresce no país a partir do aumento da produtividade.
— Essa produção toda, tem um momento de entrada. Se não temos infra, ocasiona queda de preços como estamos vendo agora — diz Luz, acrescentando que PIB é uma medida de crescimento econômico do país, lucro, é outra.