Apesar de ter começado mais cedo, a estiagem que gera perdas à produção de verão não deve provocar à economia de 2023 o mesmo impacto causado pelo fenômeno em 2022. Dados do PIB apresentados pelo Departamento de Economia e Estatística (DEE) da Secretaria de Planejamento confirmam que o tombo registrado na agropecuária é o maior da série histórica iniciada em 2022: 45,6%. O percentual refere-se ao acumulado do ano em relação a 2021. E supera os reflexos sobre o Valor Adicionado Bruto (VAB) em outros momentos de tempo seco, como em 2012, quando alcançou 32,4%, ou 2020, com recuo de 29,6%.
— Em linhas gerais, a soja, por ter aumentado a produção no Estado, expandindo área, produtividade e preços, ganhou uma participação no VAB muito grande — ponderou o economista Martinho Lazzari, pesquisador do DEE.
Atualmente, 60% da agropecuária gaúcha vem da soja, logo, quando há um recuo tão significativo na produção do grão (54% pelos dados da Emater), a tendência é de ele puxar de forma acentuada o resultado do segmento, ainda que outros itens tenham tido queda ou desempenho positivo, o que aconteceu com a produção de trigo. A produção do cereal cresceu 49% em volume, mas não teve força para reverter o estrago causado pela estiagem, que afetou também a pecuária.
Reforçando a avaliação já feita, de que sim, essa foi a pior estiagem em termos econômicos, o economista-chefe da Federação da Agricultura do Estado (Farsul), Antônio da Luz, chama atenção para outro fato. É o do efeito cumulativo dessa perda:
— As pessoas não param para pensar que à queda é preciso somar o que se esperava crescer. Quando caímos, diminuímos a base sobre a qual os próximos crescimentos virão. Ao avançar sobre uma base menor, se tem uma expansão absoluta menor. Isso em 20, 30 anos faz uma diferença imensa. O que quero dizer é que o impacto de uma estiagem é perpetuado no tempo.
Diante do "desastre" que foi 2022, 2023 deve ser de recuperação (pelo menos nos números do PIB), apesar da nova estiagem, com prejuízos à safra de verão. É como alguém que cai em um buraco de um poço e, na fotografia seguinte, está saindo desse poço, compara Luz.
— Embora a estiagem (de agora) tenha diminuído a expectativa para a produção agropecuária, ainda deve ser maior do que a de 2022 — pondera o pesquisador do DEE.