Se em 2022 a combinação dos efeitos do clima e dos custos em alta derrubou o crescimento da agropecuária nacional, em 2023, os fatores de atenção vêm sobretudo do cenário global, com grandes economias crescendo menos do que o habitual e tendo de conviver sob a sombra da inflação. Com o tempo sempre como um fator a ser considerado e uma base alta de comparação dos anos anteriores, o quadro faz a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) projetar para o setor um PIB que vai da estabilidade (0%) até 2,5% de crescimento.
— A expectativa é de um La Niña com intensidade menor. Agora, clima é uma coisa muito complicada de se prever. Em que pesem as indicações dos órgãos de meteorologia apontem que o La Niña está entre 60% e 70% do que foi no ano passado, é algo que pode mudar. Por isso, a expectativa vai de 0% a 2,5%. Porque preço, a gente espera que vai ser menor, agora produção, que crescerá muito. Se tiver retração, não consigo chegar nos 2,5%, mas fica nessa faixa menor, mas ainda positiva — pontuou Bruno Lucchi, diretor técnico da CNA.
No Rio Grande do Sul, o tempo seco já acende o sinal de alerta para a safra de verão em andamento. A preocupação maior, neste momento, é em relação ao milho, cultura que tem em dezembro uma etapa crucial do desenvolvimento, em que a umidade não pode faltar. Na soja, o principal efeito é no atraso do plantio do grão, o que acaba concentrando mais o cultivo — igualmente concentrando os riscos.
Em 2022, como pontuou Lucchi no balanço da CNA, os extremos do tempo (enchentes na Bahia, em Minas Gerais e falta de chuva no Sul) cobraram seu preço: só na soja e no milho, os prejuízos são de R$ 83 bilhões. Com isso, o ano deve fechar uma queda de 4,1% no PIB da agropecuária. Sobre a perspectiva de crescimento para o próximo ano, o diretor técnico da entidade ressalta:
— Crescer 2,5% em cima de uma base grande é algo importante.
É uma referência à performance tanto em 2020, quando chegou perto de 20%, quanto em 2021, quando foi em torno de 8%.