O ambiente político e os rumos escolhidos para a economia no governo do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva Lula serão determinantes para a atividade do setor nos próximos anos. A avaliação é da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), que divulgou, nesta terça-feira (6), projeções para 2023, levando em conta um ano de desafios e incertezas em meio a troca de governo.
A entidade projeta em 1% o crescimento da economia brasileira em 2023, com desaceleração do ritmo de avanço. Na avaliação da equipe econômica da casa, os primeiros seis meses do governo Lula serão fundamentais para se entender as diretrizes dos próximos períodos.
— É importante ter em mente que estamos navegando em meio a nuvens, com visibilidade muito baixa e pouca orientação, e os primeiros meses serão muito importantes para entender qual será o futuro. Se fizer as coisas certas, pode crescer no segundo semestre — resumiu o economista-chefe da Fiergs, André Nunes, durante coletiva de apresentação dos dados.
— Nós temos que produzir, gerar emprego e gerar impostos. O governo tem que estar nos fornecendo condições para trabalhar, e não atrapalhar. Não pode desmanchar sinalizações que vinham bem. Isso é o que não pode acontecer — completou o presidente da Fiergs, Gilberto Petry.
Tema que mais tem gerado debate antes da posse, a questão fiscal está entre as preocupações da entidade com o próximo governo. Para a Fiergs, um desequilíbrio fiscal pode frear a recuperação e frustrar um novo ciclo de crescimento, já que a incerteza em relação ao aumento de gastos e ao crescimento da dívida pública pode impactar na inflação e nos juros, além de interferir negativamente nos indicadores de confiança e na intenção de investimentos.
Agropecuária como aliada na recuperação gaúcha
Para o Rio Grande do Sul, a expectativa é de que a alta da agropecuária, depois de quebra no último verão por causa da estiagem, ajude na recuperação da economia. A projeção de crescimento é de 5% para o Estado.
Em 2022, a recuperação do setor de serviços (+12,7%) foi responsável por segurar parte das perdas, com desempenho à frente da indústria (+1,7%) e do comércio (+3,9%). Ainda assim, o PIB do Estado deve fechar o ano atual com queda de 2,5%, segundo a Fiergs.
Entre os principais gargalos da indústria gaúcha no próximo ano, a entidade aponta a falta ou o alto custo das matérias-primas e a carência de trabalho qualificado, algo que já ficou evidente em 2022. O setor deve manter a trajetória de alta no próximo ano, porém em ritmo menor. A perspectiva é de que o PIB das operações fabris no Estado tenha alta modesta de 1,2%.
O menor crescimento esperado deve se refletir no mercado de trabalho formal. No Rio Grande do Sul, projeta-se a criação de 38 mil empregos em 2023, sendo 12 mil na indústria.
Para a inflação oficial, a entidade projeta taxa de 5,2% do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2023. Já em relação à taxa de juros, considerando as incertezas do momento e de um novo governo, a equipe econômica acredita que a Selic deva permanecer no patamar dos 13,75% ao ano ainda no primeiro semestre, com sinais de redução somente no fim do ano, podendo encerrar 2023 em 12,75%.
A taxa elevada de inflação foi a maior preocupação das economias mundiais em 2022, com consequente alta nas taxas de juros. O impacto desse quadro para a atividade foi uma desaceleração na atividade global. Por isso, o pano de fundo para 2023 é um risco de recessão.
No Brasil, a avaliação da entidade é de que o país comece a ganhar maior destaque no tabuleiro internacional, principalmente pela diversificação da produção na indústria e pela grande oferta de matérias-primas. O contexto global, portanto, pode ser uma janela de oportunidades para o Brasil no próximo ano, ainda que o cenário de recessão possa afetar a demanda por exportações.