O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiu, nesta quarta-feira (26), manter a taxa de juro básico do país no mesmo patamar. Com isso, a Selic segue em 13,75% ao ano. Esta é a segunda manutenção seguida da taxa. A última alta foi promovida em agosto, quando o colegiado acrescentou 0,5 ponto percentual.
Em comunicado, o comitê afirma que a decisão "reflete a incerteza ao redor de seus cenários e um balanço de riscos com variância ainda maior do que a usual para a inflação prospectiva" e é compatível com a estratégia de buscar aproximação da meta de inflação para os próximos anos.
O órgão também deixou a porta aberta para novos aumentos caso "o processo de desinflação não transcorra como esperado":
"O Comitê se manterá vigilante, avaliando se a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período suficientemente prolongado será capaz de assegurar a convergência da inflação. O Comitê reforça que irá perseverar até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas. O Comitê enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado."
O vice-presidente de Economia da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Vandyck Silveira, afirma que a manutenção da Selic em patamar elevado ocorre diante de uma série de fatores. A incerteza sobre o combate ao risco fiscal, impulsionado por novos benefícios, é um dos principais pontos de atenção nesse processo no próximo ano. Aumento de juros em países desenvolvidos e dificuldade de reduzir a inflação de maneira consistente são outros movimentos que ajudam a explicar a postura do Copom, segundo o dirigente.
Silveira destaca que um novo aumento não ocorre diante da deflação observada nos últimos meses, mesmo que esse processo não seja generalizado:
— Essa deflação se deu principalmente pelo grito. O governo decidiu que ia reduzir impostos sem fazer uma reforma tributária. Cortou o imposto aqui, mas isso reverbera em outros pontos, como educação, saúde e outras atividades que, principalmente, governos estaduais prestam.
Alex Agostini, economista-chefe da agência de classificação de risco Austin Rating, avalia que a manutenção da Selic em 13,75% ocorre na esteira da expectativa de inflação para o futuro, que permanece sem grandes alterações. Agostini também destaca que o BC precisa manter equilíbrio diante das projeções para a atividade econômica:
— O Banco Central precisa calibrar a política monetária para não errar na dose e colocar a economia em uma desaceleração mais forte do que o esperado atualmente. Já que 2023 deve ter uma taxa de crescimento do PIB menor do que será observado em 2022.
A Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs) pontuou, por meio de nota, que a decisão do BC ocorre diante da incerteza em relação ao futuro da política fiscal.
“Mesmo com o cenário externo bastante complicado, o processo de desinflação da economia brasileira tem se mantido. Porém, a falta de certeza quanto à condução da política fiscal a partir de 2023, bem como a manutenção de uma postura de responsabilidade fiscal, colocam em xeque a ancoragem das expectativas de inflação”, afirma o presidente da entidade, Gilberto Porcello Petry, no comunicado.
Futuro
O vice-presidente de Economia da Anefac não vê espaço para corte na Selic em um futuro próximo, diante da expectativa de elevação de juros nos Estados Unidos. Isso ocorre porque os investidores consideram o país americano mais seguro para aplicação.
Para reverter este cenário, é necessário avançar na reforma administrativa, propor uma reforma tributária crível e contar com cenário externo mais calmo, com menos pressão da guerra na Ucrânia e das cadeias de suprimentos, segundo o especialista.
Já o economista-chefe da Austin Rating estima que a Selic comece a baixar no segundo trimestre do próximo ano. A antecipação desse cenário depende de fatores externos, segundo o economista. Se a desaceleração global for mais intensa do que o esperado, o BC teria de reavaliar a política monetária diante da expectativa de crescimento menor da economia no país, segundo Agostini.