Nas estiagens cíclicas enfrentadas pelo Rio Grande do Sul, há anos que se tornam marcos em razão dos estragos que a falta de chuva pode trazer à produção — e à economia — do Estado. Os dados do PIB relativos ao segundo trimestre divulgados pelo Departamento de Economia e Estatística (DEE) da Secretaria do Planejamento colocam 2022 nessa relação. Embutido no tombo de 65,6% da agropecuária em relação a igual trimestre de 2021 está um impacto que supera o trazido por perdas de safra anteriores. Foi a maior queda registrada pelo segmento em um 2º trimestre desde o início da série histórica, em 2002. E para a economia como um todo foi essa a estiagem de maior prejuízo econômico? Sim e não, explica Vanessa Sulzbach, a chefe da Divisão Econômica do DEE:
— Para efeito direto à agropecuária, foi a maior queda. Mas sabe-se que há os indiretos. Os preços em elevação (de produtos como a soja) podem ter feito o produtor não deixar de investir. E esses efeitos indiretos podem estar atenuando um pouco o impacto no todo.
Em representatividade, a produção ganhou mais peso sobre o valor adicionado bruto, que entra no cálculo do PIB. Isso ajuda a explicar por que, apesar da estiagem de 2005 ter provocado uma redução percentual na colheita da soja maior do que a deste ano, o tombo sofrido agora deixou mais cicatrizes.
– A queda da soja foi parecida, em termos de clima, com a de 2005, mas dada a participação maior (agora), tem mais efeito sobre o valor adicionado bruto. Em 2005, tivemos queda de produção e de preço — completa Pedro Zuanazzi, diretor do DEE.
Outro ponto importante a considerar é a base de comparação alta – 2021 foi de safra recorde. Economista-chefe da Federação da Agricultura do Estado (Farsul), Antônio da Luz classifica esta como “a pior estiagem, de longe”. E justifica:
– O PIB da agropecuária é muito mais conectado com o da indústria e o de serviços do que era há 20 anos. A indústria é importante como compradora e como fornecedora. Uma seca prejudica nas duas pontas. O serviço, a mesma coisa.
Outro ponto importante ser considerado é a base de comparação alta. O ano de 2021 foi de safra recorde e de efeitos superlativos da produção. Além da soja, milho e arroz tiveram perdas em 2022, contribuindo para a queda livre registrada no segundo trimestre, sempre o de maior efeito da produção para a economia.
Daqui para a frente, o trigo, que começa a ser colhido no último trimestre do ano, tem potencial para diminuir a queda do PIB agropecuário gaúcho no ano. Mas não a ponto de reverter os efeitos da estiagem de verão.
– Deve mitigar, mas não compensar, porque é menos representativo – explica Vanessa.
As quebras e o PIB
2021/2022
- Perdas na soja: 54,3%
- Impacto no PIB agropecuário: queda de 65,6% no 2º trimestre de 2022 sobre o 2º trimestre de 2021; nos seis primeiros meses, o recuo foi de 57,5%
2011/2012
- Perdas na soja: 49,3%
- Impacto no PIB agropecuário: recuo de 44,1% no 2º trimestre de 2012 ante o 2º trimestre de 2011;no ano, caiu 32,4%
2004/2005
- Perdas na soja: 55,9%
- Impacto no PIB agropecuário: recuo de 23,9% no 2º trimestre de 2005 ante o 2º trimestre de 2004; no ano, caiu 21%