Quem já viu uma série histórica — as variações ao longo dos anos — do Produto Interno Bruto (PIB) do Rio Grande do Sul aprendeu: o comportamento da economia gaúcha costuma ser exatamente igual ao da nacional. As exceções que confirmam a regra ocorrem quando há estiagem no Estado, como ocorreu entre o final do ano passado e o início deste, quando se desenvolve o cultivo do maior item gaúcho de exportação, a soja.
No segundo trimestre, a queda foi de 3,5% em relação ao primeiro, que já havia caído 3,8%, e de assustadores 11,5% na comparação com o mesmo período de 2021. Seria um susto, se não tivesse sido previsto já quando o período de janeiro a março foi pior do que o previsto.
O dado contrasta com o crescimento de 1,1% no PIB nacional do mesmo período. E o motivo é o mesmíssimo de sempre: a estiagem. É no segundo trimestre que a maior parte da safra é colhida e vendida, portanto concentra a maior circulação de riqueza no Estado. Daí a queda de 38,3% no setor agropecuário no segundo trimestre em relação ao primeiro e de impressionantes 65,6% na comparação com o período de abril a junho de 2021. Conforme o Departamento de Economia e Estatística (DEE), é o pior resultado para o setor desde o início da série histórica, em 2002.
A economia tem oscilações que ignoram qualquer tentativa de planejamento. Podem ser causadas, como vimos nos últimos anos, por pandemia ou guerras. Mas se existe algo que se pode tentar administrar é a quantidade de água para irrigar o plantio. Claro, é preciso planejar a ampliação do acesso à irrigação com critérios atualizados que considerem os riscos da crise do clima. Mas não falta tecnologia.
Vanessa Sulzbach, chefe da Divisão de Análise Econômica e diretora-adjunta do DEE, já havia advertido que esse impacto ocorreria no segundo trimestre, "com 100% de chance". Agora, constata que a regra e sua exceção foram confirmadas:
— O resultado negativo do segundo trimestre já era esperado, uma vez que a maior parte da produção agrícola, bastante afetada pela estiagem que ocorreu no Estado nos primeiros meses do ano, é computada nesse período para o cálculo do PIB. Com a base alta do ano passado (quando foi colhida uma safra histórica), a agropecuária sofreu a maior queda trimestral da série histórica.
Os efeitos desse tombo no PIB gaúcho só não foram maiores, destacou Vanessa, porque os setores da indústria e de serviços - no qual está contabilizado o comércio -, tiveram bons desempenhos no período.