
Ainda sob efeito da estiagem, a economia do Rio Grande do Sul voltou a apresentar retração. O Produto Interno Bruto (PIB) do Estado caiu 3,5% no segundo trimestre de 2022 ante o primeiro trimestre. Comparando com o mesmo período do ano passado, a queda é ainda maior: 11,5%. Em ambos os recortes, o Estado está atrás do país. O resultado negativo da economia gaúcha foi puxado pela agropecuária, setor castigado pela insuficiência de chuva registrada no Estado durante a última safra. Os dados foram divulgados, nesta segunda-feira (19), pelo Departamento de Economia e Estatística, vinculado à Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão (DEE/SPGG).
O levantamento mostra que a agropecuária recuou 38,3% no segundo trimestre em relação ao trimestre imediatamente anterior e 65,6% ante o mesmo período do ano passado. O DEE destaca que esse é o pior resultado para o setor dentro da série histórica, que começou em 2002. As produções de soja (-54,3%), arroz (-31,6%) e milho (-9,8%) se destacam entre as piores quedas, na comparação anual, dentro desse ramo da economia.
A Indústria obteve resultados acima da média nas duas bases de comparação. Já o setor de Serviços registrou desempenho acima do nacional quando comparado com o primeiro trimestre de 2022.
A chefe da divisão de Análise Econômica e diretora-adjunta do DEE, Vanessa Sulzbach, afirma que o resultado negativo do segundo trimestre já era esperado, porque a maior parte da produção agrícola é computada nesse período para o cálculo do PIB. Portanto, os estragos observados nos primeiros meses do ano seriam observados tanto na variação em relação ao trimestre anterior quanto ao mesmo período do ano passado.
— Com a base alta do ano passado, a agropecuária sofreu a maior queda trimestral da série histórica. Seus efeitos no PIB gaúcho não foram maiores porque Indústria e Serviços, sobretudo o Comércio, tiveram desempenhos bons no período — destacou Vanessa.
Dentro de serviços, o comércio teve destaque na variação em relação ao trimestre imediatamente anterior, subindo 6,9% no Estado. Na sequência, aparece o ramo de outros serviços (2,4%). A economista da Fecomércio-RS Giovana Menegotto afirma que o resultado de serviços dentro do PIB do período ocorre em linha com o cenário observado nos últimos meses, marcado pela retomada:
— A partir de março, a gente conseguiu avançar em termos de um controle sanitário mais consistente, que deu espaço para essa retomada das atividades, inclusive com esse aumento de circulação. Isso deu um suporte muito grande.
A alta da indústria foi puxada pelas áreas de Eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana (+18,4%) e Construção (+4,3%). A Indústria de Transformação, que tem mais representatividade na economia gaúcha, apresentou alta de 1,7%.
A economista Maria Carolina Gullo, professora da Universidade de Caxias do Sul (UCS), afirma que a demanda dentro no setor de máquinas e equipamentos também é um dos fatores que ajudam explicar o desempenho do setor:
— É um segmento que foi bastante demandado no ano passado e ainda segue aquecido.
Próximos meses
A diretora-adjunta do DEE afirma que, como a agropecuária está puxando o PIB muito para baixo, os demais setores teriam de ter desempenho muito expressivo na segunda metade do ano para reverter o PIB para um campo positivo no final de 2022.
— É possível que um bom desempenho de indústria e serviços nos próximos meses consigam mitigar em alguma medida esse peso negativo da agropecuária no valor adicionado do PIB, na taxa final do PIB do ano aqui no Rio Grande do Sul — pontua Vanessa Sulzbach.
A economista Maria Carolina Gullo avalia que a economia do Estado pode fechar o ano no azul. Projeção de avanço em serviços e na indústria abrem espaço para essa possibilidade, segundo a professora da UCS.