Nesta segunda-feira (25), as ações do Carrefour negociadas no Brasil chegaram a cair 1,5% pela manhã. À tarde, buscam estabilidade, alternando fase de pequena baixa e discreta alta. No mercado, a movimentação é atribuída ao boicote contra as marcas da rede varejista francesa, por sua vez motivado pelo anúncio da decisão do grupo de não comprar carne do Mercosul para vender na França.
Ainda na sexta-feira (22), bares, restaurantes e hotéis de São Paulo passaram a recomendar que o segmento não compre em unidades de Carrefour, Atacadão e Sam's Club. Depois, a cobrar que os estabelecimentos deixem de comprar carnes de frigoríficos que não aderirem.
Mais cedo, o ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, disse estar "feliz" com a reação de frigoríficos brasileiros em suspender o fornecimento de carne ao Carrefour no Brasil.
O tamanho do estrago é inversamente proporcional a uma curta nota emitida pela rede ainda no sábado: "É improcedente a alegação de que hoje há desabastecimento de carne nas lojas do Grupo Carrefour Brasil. Tal alegação, veiculada sem identificação de fonte, contribui para desinformação. A comercialização do produto ocorre normalmente nas lojas. Nenhuma loja está desabastecida".
O boicote foi convocado pela Federação de Hotéis, Restaurantes e Bares do Estado de São Paulo (Fhoresp). O motivo não é a decisão em si, mas a justificativa dada pelo CEO do Carrefour, Alexandre Bompard:
"Sem apresentar provas técnicas, Bompard alegou que os produtos sul-americanos não atendem às exigências e às normas francesas".
Conforme a entidade, a represália deve ser mantida até que o Carrefour volte a adquirir carne do Mercosul. É o mesmo motivo da indignação de Fávaro, como o ministro detalhou à Globonews:
— Não é pelo boicote econômico. O problema é a forma com que o CEO do Carrefour tratou, o primeiro parágrafo da carta, da manifestação dele, que fala com relação à qualidade sanitária das carnes brasileiras, o que é inadmissível falar.
No comunicado enviado na semana passada ao presidente da Federação Nacional dos Sindicatos de Agricultores, Arnaud Rousseau, o CEO afirma que "em toda a França, ouvimos o desespero e a indignação dos agricultores diante do projeto de acordo de livre-comércio entre a União Europeia e o Mercosul e o risco de inundação do mercado francês com carne que não atende às suas exigências e normas".
Se a carne do Mercosul não atendesse a exigências e normas da UE e o Carrefour comprava, teria explicações ainda mais difíceis - em em fóruns mais duros - para dar.
E o dano de imagem à rede no Brasil, desta vez, foi contratado espontaneamente pelo seu principal executivo na França. O Carrefour ainda investe milhões de reais para sanar outro problema de reputação, esse relacionado à morte de João Alberto Silveira Freitas em uma unidade do hipermercado na zona norte de Porto Alegre.