Yamandú Orsi, pupilo do ícone da esquerda José "Pepe" Mujica, é o novo presidente do Uruguai, depois de vencer o segundo turno neste domingo (24) contra o candidato do partido governista de centro-direita Álvaro Delgado, segundo resultados oficiais.
Com 94,4% dos circuitos eleitorais apurados, Orsi obteve 1.123.420 votos, contra 1.042.001 de Delgado, informou o Tribunal Eleitoral.
— Vou ser o presidente que convoca uma e outra vez o diálogo nacional para encontrar as melhores soluções, claro, com nossa abordagem, mas também ouvindo muito bem o que os outros nos dizem — afirmou Orsi, após a confirmação da vitória.
Delgado reconheceu a vitória de Orsi após a divulgação das projeções das pesquisas.
— Hoje os uruguaios definiram quem exercerá a Presidência da República. E quero enviar aqui, com todos esses atores da coalizão, um grande abraço e saudações a Yamandú Orsi — disse Delgado, cercado pelos parceiros da aliança governante que o apoiou no segundo turno.
Buzinas e gritos de euforia eclodiram na capital Montevidéu, reduto da Frente Ampla no país, quando as projeções foram divulgadas.
O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, parabenizou Orsi na rede X. "Essa é uma vitória de toda a América Latina e do Caribe. Brasil e Uruguai seguirão trabalhando juntos no Mercosul e em outros fóruns pelo desenvolvimento justo e sustentável, pela paz e em prol da integração regional", afirmou.
Com Orsi, a Frente Ampla retorna ao governo que perdeu em 2020 após três mandatos consecutivos, um deles sob Mujica (2010-2015).
Quem é Yamandú Orsi
Este professor de história, de 57 anos, sucederá ao presidente Luis Lacalle Pou no dia 1º de março. O atual presidente tem nível de aprovação próximo de 50%, mas era constitucionalmente impedido de buscar uma reeleição imediata.
Orsi, ex-prefeito do departamento de Canelones, entrou na disputa à frente em todas as pesquisas anteriores, mas seguido de perto por Delgado, por uma diferença que estava dentro da margem de erro.
— Foi uma eleição apertada — disse o diretor da Equipos Consultores, Ignacio Zuasnabar.
No primeiro turno, em 27 de outubro, Orsi teve 17,2 pontos percentuais a mais que Delgado, que no segundo turno contou com o apoio de todos os partidos da coalizão governista, que juntos haviam obtido 47,7% dos votos na primeira etapa do pleito.
Sem mudança radical
O Uruguai, a democracia mais sólida da América Latina, tem uma alta renda per capita e níveis mais baixos de pobreza e desigualdade em comparação com o resto da região.
Mas o elevado custo de vida e a criminalidade estão no centro das preocupações dos eleitores neste país agrícola, com 3,4 milhões de habitantes e 12 milhões de cabeças de gado.
— Para os trabalhadores, estes cinco anos (de governo Pou) não foram nada bons — disse Gustavo Maya, entregador de gás de 34 anos, que apoia Orsi.
— Ando o dia todo na rua e o que me preocupa muito é a insegurança — reclamou.
William Leal, pedreiro de 38 anos, apoiou Delgado.
— Quero que este governo continue porque houve muito mais trabalho no setor da construção — disse.
Após votar na cidade de Canelones, 50 quilômetros ao norte de Montevidéu, Lacalle Pou garantiu uma transição "com a maior informação possível".
Orsi, que votou muito próximo do circuito do presidente, disse que espera encontrar-se "o mais rápido possível" com Lacalle Pou.
Nenhum dos dois blocos terá maioria parlamentar, já que nas eleições de outubro a Frente Ampla conquistou 16 das 30 cadeiras no Senado, e a coalizão governista, 49 dos 99 assentos na Câmara dos Deputados.
— Todos concordamos com a necessidade de acordos — disse Orsi.
Os analistas não preveem uma mudança de rumo: Orsi prometeu "uma mudança segura que não será radical".