Enquanto no Sul a safra de uva ocorre uma vez por ano, no nordeste brasileiro, uma região se destaca pela possibilidade de produção o ano inteiro. No Vale do São Francisco, mais especificamente do submédio São Francisco (que compreende Bahia e Pernambuco), o cultivo tem um diferencial: sem o frio para interromper o ciclo da videira, o controle da irrigação entra como alternativa. A região pode se tornar a primeira área tropical do mundo a ter o selo de indicação geográfica para produção de vinhos. O pedido foi feito ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi) em dezembro de 2020.
— O que o frio faz aí (no Sul) é paralisar o crescimento. Aqui, nós paralisamos isso com a ausência de água, porque a planta tem temperatura o suficiente para sobreviver, tem luz, então, só falta água. Tem que cortar alguma coisa, só temos como tirar a água — explica Francisco Macedo de Amorim, professor de Enologia e colaborador do Instituto do Vinho do Vale do São Francisco (Vinhovasf), entidade que participou da solicitação.
Segundo o especialista, são a presença contínua do sol ao longo dos meses, a ausência de temperaturas frias e o controle da irrigação, com água provinda do Rio São Francisco, que permitem à planta ter até três safras por ano. É esse último fator, aliado à poda e às variedades mais adaptadas ao clima, que caracteriza o cultivo na região.
Como resultado, os vinhos tropicais são "jovens, frescos e frutados", conforme descreve o professor. Entram no pedido de indicação de procedência (IP) os vinhos finos — brancos, tintos e espumantes. Oito municípios estão inclusos, totalizando oito vinícolas — uma delas é a Terranova, da gaúcha Miolo.
De acordo com a Embrapa Uva e Vinho, até o momento, as indicações geográficas de vinho no Brasil (que podem ser ou indicação de procedência ou denominação de origem) são do Sul, sendo seis registradas no Rio Grande do Sul e uma em Santa Catarina.
Roberta Boscato, engenheira agrônoma e sommelier da Boscato Vinhos Finos, que integra a IP Altos Montes, da Serra gaúcha, destaca a importância dos selos para mostrar o potencial de produção e as diferenças dentro do Brasil.
— O conhecimento das nossas zonas geográficas de produção acho que vai valorizar, sim, o nosso produto interno, fazer o nosso consumidor descobrir que não existe um só vinho brasileiro. Existem zonas de produção e, dentro delas, existirão várias IPs e denominações de origem — pontua Roberta.
*Colaborou Isadora Garcia