Se as perspectivas se concretizarem, a agropecuária brasileira tem a chance de alcançar em 2021 um novo patamar de faturamento. Dados preliminares divulgados pelo Ministério da Agricultura apontam que o valor bruto da produção (VBP) pode ser, pela primeira vez na história, trilionário. Mais precisamente, a R$ 1,025 trilhão. Nesse cenário otimista, que depende de fatores que vão da colheita à variação cambial, há espaço para expandir sobre uma base de comparação que já é de crescimento. E tem um efeito multiplicador a ser considerado, lembra Antônio da Luz, economista-chefe da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul):
— Esse é a quantia gerada nas propriedades. Quando se amplia, começa a se ver esse valor “jorrar” para as cidades, sobretudo aquelas que têm vocação agropecuária.
Em 2020, o VBP, de acordo com as informações do mês de novembro, deve fechar em R$ 885,8 bilhões, alta de 15,1% em relação a 2019. E reflete o avanço na receita das lavouras, de 19,2%, e da pecuária, de 7,3%.
A valorização em reais de produtos como arroz, milho, soja e trigo foi um dos motores desse aumento nas plantações. Entre as proteínas, a boa demanda externa crescente, fez das carne bovina e suína e dos ovos itens de destaque.
A combinação de preços e exportações foi o que alimentou o resultado. E é parte importante para a conquista do próximo ano.
— A primeira coisa é colher. Depois, saber a que preço serão vendidos os produtos. Do momento em que a projeção foi feita até agora, já houve recuo. E a recuperação depende da variação cambial — observa Luz.
Fatores que impactaram o RS neste ano, quando a estiagem reduziu a produção. Na esteira dos preços, o faturamento cresceu 8%. Os ganhos poderiam render mais em caso de safra cheia. No ranking nacional, o Estado caiu para a quinta posição, com R$ 72,65 bilhões.
Aposta na colheita ainda se mantém
A projeção de nova safra recorde no país é um fator que alimenta a perspectiva de um valor bruto da produção agropecuária histórico em 2021. No Estado, o período prolongado sem chuva já consolidou prejuízos na cultura do milho, que chegou a 92% da área total estimada, conforme levantamento semanal da Emater. Projeção da Farsul a partir de dados do IBGE aponta redução de 28,1% na produção total do grão. É o segundo ano seguido de recuo.
Na soja, a esperança de safra positiva (mas nada de super) se mantém, apesar do atraso na semeadura, agora praticamente encerrada, com 98% da área prevista. Diretor técnico da Emater, Alencar Rugeri, avalia que, no geral, o quadro é bom, mas lembra que há variações na distribuição de chuva. Além disso, o risco ficou concentrado em razão do acúmulo no plantio.
Expectativa por novo capítulo para a pecuária gaúcha
O passo à frente foi dado em 2020, com a decisão de não mais vacinar o rebanho bovino e bubalino do Rio Grande do Sul. Mas é a confirmação do novo status, de livre da aftosa sem vacinação, esperada para 2021, que poderá, de fato, abrir novas perspectivas para o Estado.
Quem concede o certificado é a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), que tem sede em Paris, na França. O anúncio é feito durante a assembleia-geral da entidade, que costuma ser realizada em maio. Antes disso, em fevereiro, o conselho de delegados se reúne e fecha a agenda para o evento. Se estiver na pauta, a certificação será apenas uma questão de formalidade.
Faturamento seguirá em alta
A pecuária brasileira também teve em 2020 um ano de destaque. o valor do produto no país foi puxado pela carne bovina (com crescimento de 14,5%), suína (avanço de 23,3%) e pelos ovos (avanço de 10,1%). O faturamento do setor deverá seguir em alta, estimada em 15,1%.
Sem parar
- A agropecuária não parou durante a pandemia. A produção continuada garantiu o abastecimento do mercado interno e externo. E fez de 2020 um ano de marcas recordes. Confira abaixo alguns dos destaques do ano
- A variação cambial deixou os produtos do agro brasileiro mais competitivos no mercado externo. Isso, associado ao aumento da demanda global, fez as cotações alcançarem patamares históricos em reais
- Está nessa lista o arroz, que chegou a R$ 105,38 a saca na média mensal de outubro deste ano, segundo o índice Cepea/Senar-RS. Em 30/12, havia recuado para R$ 93,91. A valorização veio depois de cinco anos seguidos de prejuízo na atividade
- A soja alcançou R$ 164,99 na média de novembro, segundo o índice Esalq/BM&FBOVESPA - em Paranaguá. Em 30/12, estava em R$ 153,90