Depois de virar ingrediente à mesa de debate nacional, em razão do aumento de preço e da preocupação com a disponibilidade, o arroz termina o ano de forma mais discreta. As cotações vêm recuando na direção do patamar em que devem se acomodar. Que não é aquele verificado no auge da valorização – em outubro, o preço médio segundo o índice Esalq/Senar-RS chegou a R$ 105,38 a saca –, nem o de um ano atrás, R$ 47,90.
Para 2021, a projeção é de que a oferta continue ajustada, com a variação cambial tendo um papel importante na equação. É a taxa que determinará o quão competitivo será o produto brasileiro no mercado global, o que se traduz em maior ou menor volume para embarques. Tiago Barata, diretor-executivo do Sindicato da Indústria de Arroz do Estado (Sindarroz-RS), explica que o piso “será estabelecido pela paridade de exportação”. Já o teto, “pelo valor que o varejo absorver”:
– Teremos, mais uma vez, safra enxuta, com oferta ajustada à demanda. Mas imaginamos comportamento de preço menos volátil.
Em 2020, a saca teve valorização de 112% de janeiro a outubro. No período, o quilo do arroz agulha subiu 25,9% na Capital, aponta dado do Iepe/UFRGS compilado pela Farsul. Alexandre Velho, presidente da Federação das Associações de Arrozeiros (Federarroz-RS), entende que preço médio de R$ 4,50 no varejo permite remunerar o produtor com valores de R$ 85 a R$ 90.
Com o plantio no Estado praticamente encerrado, a perspectiva, pondera o dirigente, é de que se tenha estabilidade de área cultivada, “ficando igual ou muito parecida” com a do ciclo passado. A expansão que se imaginava vir na carona da valorização da saca do arroz não ocorreu. Por duas razões: o tempo seco, que não permitiu a recuperação completa dos mananciais de água, e o abandono da atividade, reflexo do desestímulo após cinco safras seguidas de prejuízo.
A cota de importação com tarifa zerada para países de fora do Mercosul, de 400 mil toneladas, termina neste mês e não deve ser toda usada. Sobre os novos patamares de preço do cereal, Velho avalia que “vieram para ficar”:
– Demonstramos que continua sendo acessível. A sociedade reconheceu a importância de termos o produto disponível em anos de crise, de pandemia.