O jornalista Fernando Soares colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
A cotação do arroz está se mantendo firme, mesmo 50 dias após o governo federal zerar a alíquota de importação para conter a alta do preço do alimento no varejo. Outubro será o segundo mês consecutivo em que o valor pago ao produtor fechará acima dos R$ 100 por saca, algo inédito. De acordo com o indicador da Esalq/Senar-RS, 50 quilos do cereal valiam R$ 104,78 ontem. No ano, a valorização acumulada é de 117%.
Analista da Safras & Mercado especializado em arroz, Gabriel Viana lembra que uma série de fatores leva à manutenção dos preços apesar da medida governamental tentar facilitar a compra de arroz externo para aumentar a oferta no país. Viana destaca que, mesmo no Exterior, o grão tem se valorizado e, com o real cada vez mais enfraquecido frente ao dólar, o preço do arroz importado acaba sendo similar ao nacional.
- A importação cresceu, mas apenas trouxe mais liquidez (disponibilidade no mercado), mas não traz uma redução significativa de preço porque o real segue se desvalorizando. Além disso, estamos com os estoques de passagem mais baixos das últimas décadas - analisa.
A tendência é que a cotação da saca no mercado interno só comece a ceder a partir da entrada da nova safra gaúcha, com colheita prevista a partir de fevereiro. Ainda assim, a expectativa é de que os preços fiquem em nível similar ao atual e dificilmente voltarão à faixa entre R$ 45 e R$ 50, vista no início de 2020.
- O atual patamar de preços é um novo normal para o arroz. Vale lembrar que 80% dos produtores não venderam arroz a R$ 100 a saca, a maioria comercializou a safra quando ela estava bem abaixo disso - aponta Alexandre Velho, presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz).
Para o consumidor, o preço segue sem sinal de trégua. O IPCA-15 de outubro, a prévia da inflação oficial calculada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontou alta de 21,07% no arroz em Porto Alegre. Velho sinaliza que, após anos de baixa remuneração ao produtor, o consumidor terá de se acostumar ao novo preço do produto. No entanto, enfatiza que, mesmo com valor médio de R$ 4,50 por quilo no varejo, o alimento segue acessível à população.