Ainda deve demorar cerca de um mês para que o arroz importado dentro da cota com tarifa zerada chegue ao mercado brasileiro. A medida que derrubou o imposto para a compra do cereal de países de fora do Mercosul foi anunciada no início de setembro, com o objetivo de garantir a oferta e o abastecimento do país. Enquanto esse produto não chega, a baixa disponibilidade e a disputa acirrada em algumas regiões seguem alimentando altas nas cotações, aponta relatório desta quarta-feira (23) do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). E o índice levantado por Esalq-Senar-RS para valor médio da saca chegou a novo recorde da série histórica iniciada em 2005: R$ 106,24.
— A gente sabe que esse arroz não chega de uma hora para outra. O mercado segue firme, mas a gente via que, antes do anúncio da retirada da TEC (tarifa externa comum), estava subindo sem nenhuma referência, em escala exponencial. Tá subindo porque ainda se vê pouco produto disponível — avalia Tiago Barata, diretor-executivo do Sindicato da Indústria do Arroz (Sindarroz-RS).
Já há cargas negociadas com Estados Unidos (de três a quatro navios), Guiana e Índia, de onde deverão chegar entre 1,2 mil e 1,5 mil contêineres. A estimativa, diz Barata, é de que na segunda quinzena de outubro já se comece a ter arroz americano entrando no Brasil.
— É mais para haver oferta, liquidez do que realmente reduzir preços — reforça Gabriel Castagnino Viana, analista da Safras & Mercado, sobre o produto que entrará com a tarifa zerada.
A cota com isenção não é muito elevada: as 400 mil toneladas que poderão ser adquiridas até o final do ano são capazes de atender à demanda interna por menos de um mês. Viana acrescenta que, mesmo livre de imposto, o arroz importado também chegará com um preço elevado.
— O mercado não deve se alterar até a entrada da safra brasileira. Não há disponibilidade. Os EUA têm compromisso para atender com outros compradores, como o México, e com o abastecimento interno. Além disso, o preço do arroz internacional está caro, e tem a questão da qualidade. Isso traz um sinalizador de estabilidade mas de forma alguma de queda de preço — pondera Alexandre Velho, presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Estado (Federarroz-RS).
Diante desse cenário, a redução de preços também ao consumidor só deve chegar em 2021. E deve ficar em torno de 5%, estima o dirigente:
— Não vejo espaço para diminuir mais do que isso. O quilo deve ficar em torno de R$ 4.
A margem para a reacomodação de preços depende de fatores como estoque (que deverá estar zerado quando a colheita iniciar), volume que será produzido no país (ainda não se tem a definição da próxima safra), variação cambial (que tornou o cereal brasileiro atrativo no mercado internacional, alavancando exportações) e demanda (em meio à pandemia, o consumo cresceu dentro e fora de casa). Os especialistas ressaltam, ainda, que a acomodação não é sinônimo de volta aos antigos patamares que, durante anos, sequer cobriam custos de produção. O ponto de equilíbrio tem sido estimado em torno de R$ 80 a saca.
— A princípio, os preços vão desacelerar a alta, se mantendo altos até a entrada da safra. Com a ampliação da oferta, é provável que o preço recue em março (de 2021). E teremos uma temporada de preços nesse patamar — estima o analista da Safras & Mercado.