A economia do Rio Grande do Sul encolheu 1,1% no terceiro trimestre. Calculado pelo Banco Central, o Índice de Atividade Econômica Regional do Rio Grande do Sul (IBCRRS) já traz o ajuste sazonal na comparação com o segundo trimestre de 2019.
Apesar de ter registrado um primeiro semestre de destaque no país, a economia gaúcha dava sinais claros de que não tinha começando bem a segunda metade do ano. Conforme os dados do IBGE, os três setores tiveram desempenho negativo de julho e setembro:
Comércio ampliado: -1,4%
Serviços: -1,2%
Produção industrial: -2,9%
Quando a comparação é com o terceiro trimestre de 2018, a economia do Rio Grande do Sul também aponta recuo. O IBCRRS fica em -0,4%.
Setembro até trouxe crescimento sobre agosto, de +0,14%. No entanto, não devolve nem a queda do mês anterior, ficando em 139,65 pontos, que é o segundo menor patamar do ano. Atrás, obviamente, só de agosto. O melhor desempenho da economia gaúcha em 2019 foi atingido em março.
O comércio teve queda forte da venda de combustíveis e lubrificantes, surpreendente até pela intensidade do recuo. Enquanto isso, ainda aguarda a retomada do emprego e aumento na confiança do consumidor, avisa o economista-chefe da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDLPOA), Oscar Frank.
O setor de serviços ainda patina para engatar uma retomada. Em especial, no transporte de cargas, que, além de tudo, é um termômetro da economia. Está difícil trazer resultado positivo e é o setor que mais pesa no PIB, além de um grande gerador de empregos.
A produção da indústria ter ficado negativa negativa não surpreende. A coluna Acerto de Contas vinha alertando para o resultado desde agosto, quando as fábricas de veículos automotores, reboques e carrocerias começaram a dar sinais fortes de perda de fôlego na recuperação. Um dos motivos é a crise na Argentina, destino importante das exportações gaúchas.
Economia acomodada
"Acomodação" foi o termo usado pelo Banco Central no último relatório regional ao se referir à economia do Rio Grande do Sul. Preocupa, já que recém estávamos trabalhando com uma recuperação após a crise econômica, que provocou a recessão no país.
Considerando ainda o trimestre encerrado em agosto, o Banco Central destaca, negativamente, a queda no nível de atividade do comércio, prestação de serviços e, principalmente, da indústria. Veja alguns tópicos do documento da autoridade monetária, analisando a economia gaúcha:
1 - As vendas do comércio ampliado recuaram 0,9% no trimestre encerrado em agosto.
2 - Dados de licenciamento de veículos e comerciais leves sugerem acomodação, tendo em vista a retração de 4,3% no trimestre.
3 - Indicadores de confiança dos comerciantes e das famílias foram positivamente impactados pela sazonalidade e por evento específico, que é liberação de recursos do FGTS.
4 - O volume de serviços prestados no Estado recuou 1% no trimestre encerrado em agosto, destacando as retrações nos serviços de transportes e prestados às famílias.
5 - No mercado de trabalho formal, foram extintos 9,4 mil postos de trabalho no trimestre encerrado em agosto. A indústria foi a principal responsável, no entanto, com impacto sazonal da indústria fumageira.
6 - Descontados fatores sazonais, a taxa de desemprego aumentou 0,4 ponto percentual em relação ao trimestre anterior, atingindo 8,1% da força de trabalho do Estado.
7 - O saldo das operações de crédito avançou 0,7% no trimestre encerrado em agosto. No crédito livre, as empresas destacam-se. Nas carteiras de pessoa física, destaque para os gastos com cartão de crédito e os financiamentos de veículos.
8 - Estabilidade das taxas de inadimplência tanto de famílias quanto de empresas.
9 - Ressaltou as expansões na produção de soja, milho e trigo, e a queda na de arroz, que responde por 69,5% da produção nacional e que experimentou, nos últimos anos, substituição de área cultivada por soja. O VBP agrícola estadual deverá recuar 2,6% em 2019, ante 2018. Especialmente, nas lavouras de soja, -3,2%, arroz, -9,9% e mandioca, -22,7%.
10 - A indústria gaúcha assinalou perda de dinamismo. O volume produzido caiu 1,4% no trimestre finalizado em agosto. O resultado trimestral foi influenciado pela reversão no desempenho dos segmentos de fabricação de veículos, reboques e carrocerias, de máquinas e equipamentos e de outros produtos químicos. Mas seis das 14 atividades pesquisadas aumentaram a produção, com destaque para produtos alimentícios e calçados.
11 - O licenciamento de caminhões e ônibus no Rio Grande do Sul caiu 8% no terceiro trimestre sobre o segundo, porém em patamar superior, 44%, ao de 2018.
12 - A balança comercial gaúcha registrou superávit de US$ 6,2 bilhões nos nove primeiros meses do ano, com as exportações superando as importações. No entanto, é 22,9% inferior ao do mesmo período de 2018. O segmento de produtos básicos compôs 44,6% dos embarques, sendo concentrado em soja em grão e farelo vendidos à China.
13 - Descontadas as plataformas de petróleo, os embarques de manufaturados recuaram 8,3%. Destaque negativo para automóveis, com queda de 32,5% e que se destina, principalmente, à Argentina.
14 - No período, também houve queda no valor das importações, provocada por aquisições menores de bens de consumo. Em especial, de automóveis para passageiros fabricados na Argentina.
15 - Indicador oficial de inflação, o IPCA da Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA) variou 0,46% no terceiro trimestre, ante 0,54% no segundo, com aceleração nos preços livres e desaceleração nos preços administrados.
Último trimestre
Para o último terceiro trimestre do ano, se espera um estímulo da injeção de recursos na renda familiar, como o FGTS e o tradicional 13º salário. Ainda assim, caso se confirme uma projeção de melhora, é preciso que o resultado mantenha-se bom por mais tempo para evitar as demissões e fechamentos que tanto temos noticiado nas fábricas.
Colunista Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Colaborou Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
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