Ainda estão na memória do trabalhador as negociações salariais e dissídios com reajustes acima de 10%. Mas isso é coisa do passado e o principal motivo dos baixos percentuais de reajuste não é ruim, mesmo que os leitores da coluna Acerto de Contas estejam reclamando. É a queda da inflação. Ainda mais do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que é o índice que o IBGE calcula e considera o peso dos preços no orçamento de famílias com rende de até cinco salários mínimos. O indicador é usado nas negociações entre sindicatos de trabalhadores e empresas.
Nos 12 meses fechados em julho, o índice recuou para 3,16%. O principal motivo é a queda nos preços dos alimentos, já que a comida pesa mais no cálculo do INPC do que no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que é considerada a inflação oficial do país e tem a família média brasileira como parâmetro para metodologia de cálculo.
A Fipe divulga mensalmente o boletim Salariômetro. Em junho, o aumento mediano das negociações salariais monitoradas ficou em 5%. Quando é acima da inflação, chamamos de alta real no salário porque aumenta o poder de compra do trabalhador. Mesmo com a economia ainda fraca pressionando as negociações para reajustes menores, os reajustes medianos devem continuar dando esse ganho porque o INPC tende a ficar baixo.
Mas lembrem-se que o INPC baixo também é parâmetro para a argumentação das empresas, que estão ainda combatendo a crise econômica e com a mão pesada protegendo o caixa. A Fipe, inclusive, diz que ele funcionará como "ímã". Então, não teremos nem perto de índices de dois dígitos de reajuste.
Desconfiança
Só que os trabalhadores ficam desconfiados. Reclamam dos sindicatos e dos institutos de pesquisas de preço. Lembro do que sempre falava Ricardo Franzói, que acompanhou por anos os trabalhadores em negociações salariais pelo Dieese:
— Não é com a inflação que têm que brigar. Eles têm que entender que o salário que é baixo no Brasil.
Em tempo, não adianta ter um aumento salarial de 10% se o poder de compra foi corroído na mesma proporção pela inflação dos últimos 12 meses. É um aumento que mascara a sangria que preços elevados fazem no orçamento do trabalhador. O mundo ideial, leitores, seria uma inflação baixa, mas uma economia aquecida que permitisse ganhos reais maiores.