A indústria de calçados do Rio Grande do Sul criou 2.123 vagas de emprego em janeiro. Foi um destaque no Caged, cadastro do Governo Federal do mercado de trabalho com carteira assinada. No entanto, é um efeito sazonal, pois as fábricas estão dando início à produção da coleção de inverno.
Em janeiro do ano passado, foram 2.773 postos de trabalho novos. Em 12 meses, a indústria calçadista ainda acumula um saldo negativo de 4.473 empregos. Para se ter uma ideia de que o número de janeiro de 2019 é bom, mas não serve para trazer otimismo para o setor que enfrenta anos complicados.
Há quedas frequentes na exportação. Além disso, caiu também o consumo no mercado interno. O fechamento de 2018 ficou em quase quatro pares de calçados por brasileiro ao ano. Em 2013, eram cinco, segundo o economista e consultor do setor Marcos Lelis.
— A indústria de calçados tem que pensar o que vai fazer da vida — crava o acadêmico.
Para ele, os chamados "clusters", ou mesmo arranjos produtivos locais, já não são tão relevantes como eram nas décadas de 80 e 90. A proximidade entre as pontas da produção já não é um ativo essencial.
— Hoje, se produz um pedaço aqui, outro na China, outro na Turquia... A comunicação é fácil e a indústria não precisa mais produzir em grande escala.
Aliás, Marcos Lélis defende a produção em lotes menores. Com isso, as indústrias podem atender à individualidade do consumidor.
— É o que fazem as fábricas modernas 4.0 da Nike, Adidas, Reebok, entre outras. O consumidor chega na loja e pede um tênis com solado azul e cadarço amarelo. Depois, recebe em casa em uma semana — exemplifica.
Lelis diz que o setor calçadista precisa entender que está tudo bem em não manter toda a produção no Rio Grande do Sul, lembrando do movimento iniciado na década de 90 de transferência para o nordeste do país. Os esforços devem ser direcionados, por exemplo, para segurar a inteligência do setor.
— Temos aqui os institutos de pesquisa, o conhecimento nas universidade e as associações nacionais.
Ainda assim, Marcos Lelis acredita que a produção terá crescimento em 2019. Alerta, no entanto, que é sobre base fraca.
— Estamos "paradinhos" há alguns anos...
Para o economista, há esperança de que volte, ao menos, ao patamar de 2013.
Relembre algumas colunas sobre o setor em 2018:
- Paquetá transfere uma das sedes para Canoas e fecha outlet em Porto Alegre
- Fabricante de calçados demite 90 trabalhadores e terceiriza parte da produção no RS
- Trabalhadores tentam reabrir fábrica de calçados que teve falência decretada em Três Coroas
- Maior empregadora de São Francisco de Paula fecha fábrica e demite 360 pessoas
- Dakota fecha fábrica no RS
- Fábrica de calçados é fechada em Taquara e outra calçadista demite mais de 100 trabalhadores em Três Coroas
- Calçadista fecha quatro fábricas e dispensa mais de 600 trabalhadores no RS
- Fábrica de calçados expande produção em Parobé e pretende criar 600 empregos até 2019
- "Clientes da concorrência estão caindo no meu colo", diz calçadista que dobrou exportação