Billions é a série com os diálogos mais afiados que você verá por aí. Como em uma tragédia shakespeariana, a ação nem sempre ocorre perante os olhos do espectador, que muitas vezes toma conhecimento dos fatos por meio dos embates verbais entre os personagens.
Há cenas de grande movimentação, mas a maior parte delas poderia ser resumida a uma conversa entre duas ou mais pessoas em diferentes cenários. Apesar disso, não há momento algum de tédio. Muito pelo contrário, é impressionante notar a consistência da dramaturgia mesmo em sua quarta temporada, até aqui disponível na Netflix no Brasil – a rede Showtime, que produz a série, anunciou a estreia do quinto ano para o dia 3 de maio.
Para quem ainda não assistiu, vale um resumo: Billions trata de poder e faz isso por meio de dois eixos: o governo e o mercado financeiro. O primeiro é representado pelo procurador Chuck Rhoades (Paul Giamatti), e o segundo, pelo gestor de ativos Bobby Axelrod (Damian Lewis), que comanda a Axe Capital. O espectador pode até tentar criar simpatia por um dos dois, que estabelecem um jogo de gato e rato, mas a verdade é que nenhum deles tem pinta de herói. São engenhosos e inescrupulosos quando se trata de seus interesses.
No universo de Billions, o poder não passa de um jogo entre quem consegue se safar e que é pego no flagra. Mas as coisas nem sempre são o que parecem, e o poder passa de mão em mão como na brincadeira das cadeiras. Um aliado pode se tornar desafeto de um minuto para outro. É interessante acompanhar como cada personagem – e são vários – se comporta em cada contexto.
Papel singular é o de Wendy Rhoades (Maggie Siff), a esposa de Chuck que é psiquiatra e trabalha como coach na Axe Capital, onde é pessoa de confiança de Bobby – uma grande ideia dos roteiristas para conferir tensão e nuança à história. Wendy é uma das poucas personagens que preserva algo que poderia ser chamado de consciência, mas o espectador fica desde o início na expectativa de até quando ela vai conseguir se equilibrar em meio a tantos estratagemas sendo confabulados no seu entorno.
Em Billions, todos parecem esconder algum segredo e ter uma boa metáfora para introduzir um assunto espinhoso, mesmo que seja em uma pedestre conversa no banheiro. Essa variedade de referências colocada pelos roteiristas na boca dos personagens dá um ar de solenidade que satisfaz o intelecto do espectador, enquanto as intrigas palacianas satisfazem sua mais primária necessidade de uma boa novela.